Until Dawn: Noite de Terror (2025)

Minha Crítica: Until Dawn - Noite de Terror (2025)

O cinema de terror vive um momento peculiar, onde adaptações de videogames tentam encontrar seu espaço entre a fidelidade ao material original e a necessidade de funcionar como uma obra independente. Until Dawn: Noite de Terror, dirigido por David F. Sandberg, entra nesse ringue com a promessa de transformar o aclamado jogo de 2015 da Supermassive Games em uma experiência cinematográfica que honre sua essência, mas também traga algo novo. O resultado, porém, é uma mistura ambiciosa, mas irregular, que oscila entre momentos de diversão despretensiosa e tropeços narrativos que deixam o espectador com a sensação de que o filme poderia ter sido mais.

A trama segue Clover (Ella Rubin), uma jovem atormentada pelo desaparecimento de sua irmã, Melanie, ocorrido há um ano. Junto com um grupo de amigos – Max (Michael Cimino), Nina (Ji-young Yoo), Megan (Odessa A’zion) e Abe (Belmont Cameli) – ela retorna ao remoto Vale Glore, onde Melanie foi vista pela última vez. O grupo se abriga em um centro de visitantes abandonado, mas logo descobre que está preso em um loop temporal sobrenatural: cada noite, eles são caçados por diferentes ameaças, de assassinos mascarados a criaturas grotescas, e ao morrerem, acordam no início da mesma noite. Para escapar, precisam sobreviver até o amanhecer, mas com um número limitado de “vidas”.

O filme se apresenta como uma “carta de amor ao gênero de terror”, e nisso, pelo menos, é honesto. Sandberg, conhecido por Quando as Luzes se Apagam e Annabelle 2, demonstra familiaridade com os tropos do horror, utilizando o loop temporal para explorar diversos subgêneros: slasher, sobrenatural, gore e até found footage. Cada noite traz uma nova ameaça, como se o filme fosse uma antologia condensada, e essa abordagem cria sequências criativas de mortes – muitas delas violentas e visualmente impactantes, com destaque para os efeitos práticos que reforçam o tom visceral. Há um prazer quase sádico em ver os personagens enfrentarem perigos variados, desde machadadas na cabeça até explosões corporais, e o filme não tem vergonha de abraçar o trash, o que pode ser um ponto forte para quem busca diversão descompromissada.

No entanto, a ambição de Until Dawn em ser tantas coisas ao mesmo tempo é também sua maior fraqueza. A narrativa tenta equilibrar o horror com um drama psicológico centrado na culpa e na busca de Clover por respostas sobre a irmã, mas esses elementos emocionais ficam subdesenvolvidos. Os personagens, apesar de bem interpretados – Ella Rubin entrega uma performance sólida, com momentos de fragilidade e desespero convincentes –, são arquétipos típicos do gênero: a protagonista traumatizada, o ex-namorado arrependido, a amiga cética, o medroso cômico. Essa falta de profundidade faz com que o espectador se importe mais com as mortes criativas do que com o destino emocional do grupo, o que enfraquece o impacto da história.

A relação com o jogo original é outro ponto de discórdia. Diferente de adaptações como The Last of Us, que buscam recriar a narrativa do game, Until Dawn opta por uma história original no mesmo universo, mantendo apenas referências sutis, como a presença do Dr. Hill (Peter Stormare, reprisando seu papel do jogo, mas em uma versão mais enigmática) e easter eggs, como a cabana nevada vista no final. Essa escolha é compreensível – o jogo já é uma experiência cinematográfica interativa, e uma adaptação literal poderia parecer redundante –, mas frustra quem esperava ver elementos icônicos, como a trama de vingança ou a mitologia dos Wendigos, mais presentes. O loop temporal, inspirado em filmes como A Morte Te Dá Parabéns e No Limite do Amanhã, é uma adição interessante, mas por vezes parece forçado, como se o filme estivesse tentando se distanciar demais do material-base para justificar sua existência.

Visualmente, o filme tem méritos. Sandberg usa a ambientação do Vale Glore – um misto de floresta claustrofóbica e instalações abandonadas – para criar uma atmosfera opressiva, reminiscente de clássicos do terror dos anos 2000. A fotografia de Maxime Alexandre alterna entre tons frios e sombras densas, enquanto a trilha de Benjamin Wallfisch amplifica a tensão, embora caia em clichês em alguns momentos. Os efeitos práticos, como já mencionado, são um destaque, mas o CGI, usado em criaturas e cenas mais fantásticas, varia de qualidade, às vezes quebrando a imersão.

O roteiro, escrito por Blair Butler e Gary Dauberman, é outro aspecto que divide. Por um lado, ele acerta ao não se levar muito a sério, inserindo humor em doses certas – algumas falas de Max provocam risadas genuínas, mesmo que beirem o cringe. Por outro, a narrativa se perde na própria repetição. As primeiras noites são envolventes, mas conforme o filme avança, a falta de explicações claras sobre o loop temporal e a mitologia do vale começa a frustrar. O final, embora amarre algumas pontas e deixe ganchos para uma possível sequência, é anticlimático, com revelações que não surpreendem tanto quanto prometem.

Until Dawn: Noite de Terror é, no fim das contas, um filme que diverte, mas não transcende. Ele funciona como um passatempo para fãs de terror que apreciam clichês bem executados e mortes inventivas, mas decepciona como adaptação por se afastar demais do jogo e não oferecer uma narrativa tão memorável quanto o original. Sandberg mostra talento para o gênero, e o elenco jovem carrega o filme com energia, mas a falta de ousadia em explorar a mitologia e a superficialidade dos personagens impedem que o longa alcance seu potencial. É um slasher moderno com toques de sci-fi que entrega sustos e gore, mas deixa a sensação de que, assim como seus personagens, ficou preso em um ciclo que não soube como quebrar completamente.

Nota: 3/5

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