Ash - Planeta Parasita (2025)

Minha Crítica: Ash: Planeta Parasita (2025)

Ash: Planeta Parasita, dirigido pelo estreante Flying Lotus (nome artístico de Steven Ellison), é uma incursão ambiciosa no terror cósmico e na ficção científica que tenta, com unhas e dentes, se destacar em um gênero saturado de clássicos imponentes como Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e O Enigma de Outro Mundo (1982). Lançado em 24 de abril de 2025 no Prime Video, o filme traz Eiza González como Riya, uma cientista espacial que desperta em uma estação orbital com um ferimento na testa, sem memória e cercada pelos corpos brutalmente assassinados de sua tripulação. A chegada de Brion (Aaron Paul), um suposto resgatista, desencadeia uma narrativa de mistério, paranoia e horror psicológico que, embora visualmente cativante, tropeça em sua própria ambição, resultando em uma experiência que é ao mesmo tempo intrigante e frustrante. 

Atmosfera e Estilo Visual: Um Banquete Sensorial com Limitações

Um dos pontos mais fortes de Ash: Planeta Parasita é, sem dúvida, sua estética. Flying Lotus, conhecido por sua carreira na música experimental, imprime ao filme uma identidade visual que remete a um videoclipe psicodélico. A fotografia de Richard Bluck utiliza tons neon — azuis, roxos, verdes e vermelhos — para criar uma atmosfera onírica e claustrofóbica, reforçada por luzes estroboscópicas e closes abruptos que evocam desconforto. A trilha sonora, também assinada por Lotus, é um destaque à parte, com camadas de sons eletrônicos e dissonantes que elevam momentos de tensão a um patamar quase fantasmagórico. Há sequências, como a apresentação do título em uma mandala formada por gases atmosféricos, que são de uma beleza hipnótica e demonstram o potencial do diretor em criar imagens memoráveis.

No entanto, essa estilização, embora impressionante, frequentemente parece desconectada da narrativa. O excesso de efeitos visuais e a edição ritmada de Bryan Shaw, que prioriza cortes rápidos e transições abruptas, acabam minando a construção de tensão. O que deveria ser um pesadelo imersivo muitas vezes se transforma em um desfile de imagens impactantes, mas narrativamente vazias. A sensação é de que Lotus está mais interessado em impressionar visualmente do que em sustentar uma história coesa, o que faz o filme parecer, em momentos, um experimento estético em vez de uma obra cinematográfica completa.

Enredo e Roteiro: Ambição Sufocada por Falhas de Execução

O roteiro de Jonni Remmler parte de uma premissa instigante: Riya, desmemoriada, tenta desvendar o que aconteceu com sua tripulação enquanto lida com a possibilidade de estar infectada por uma entidade alienígena. A narrativa flerta com temas profundos, como a exploração colonial humana, a manipulação psicológica (gaslighting) e o horror existencial de não saber quem se é. A ideia de um parasita que distorce a percepção da realidade, infiltrando-se na mente e no corpo, é rica e poderia render um estudo psicológico poderoso.

Porém, o filme não consegue capitalizar esse potencial. A estrutura narrativa, que alterna entre flashbacks expositivos e momentos de tensão no presente, é desajeitada. Os flashbacks, em vez de aprofundarem o mistério, entregam respostas de forma didática, dissipando a ambiguidade que poderia ter sustentado a paranoia da protagonista. O grande plot twist — a revelação de que Riya é responsável pelas mortes, manipulada pelo parasita — é previsível e chega cedo demais, minando a suspense. Além disso, a ameaça alienígena é genérica, com um design que remete a clichês do gênero (tentáculos, corpos deformados) sem oferecer nada de novo. O filme tenta emular a tensão de Alien e a desconfiança de O Enigma de Outro Mundo, mas carece da urgência e da originalidade que tornaram esses clássicos atemporais.

A resolução, com Riya enfrentando a criatura em uma batalha final com um lança-chamas, é funcional, mas previsível, e a cena pós-créditos, que sugere a sobrevivência do parasita, parece mais um aceno forçado a uma possível sequência do que uma adição significativa à narrativa. O filme termina com a sensação de que prometeu mais do que entregou, deixando questões interessantes — como a crítica à colonização espacial — na superfície, sem exploração profunda.

Atuações: Um Elenco Talentoso Preso a Personagens Rasos

Eiza González entrega uma performance sólida como Riya, capturando a vulnerabilidade e a determinação de uma protagonista à beira da sanidade. Sua tentativa de emular a icônica Ellen Ripley é evidente, e ela consegue transmitir momentos de angústia genuína, especialmente nas cenas em que confronta suas memórias fragmentadas. No entanto, o roteiro não lhe dá material suficiente para explorar camadas mais profundas, e em momentos de maior intensidade emocional, sua atuação parece forçada, como se lutasse contra a direção inconsistente.

Aaron Paul, como Brion, é funcional, mas subutilizado. Sua presença traz um peso dramático inicial, mas o personagem se revela unidimensional, servindo mais como um dispositivo narrativo do que como uma figura complexa. A química entre González e Paul é praticamente inexistente, o que enfraquece a dinâmica de desconfiança mútua que o filme tenta estabelecer. Outros membros do elenco, como Iko Uwais e Kate Elliott, têm participações tão breves que mal deixam marca, uma pena considerando o talento envolvido.

Referências e Originalidade: Um Tributo que Não Inova

Ash: Planeta Parasita é descaradamente derivativo, bebendo de forma explícita de Alien e O Enigma de Outro Mundo. A protagonista desmemoriada, a estação espacial claustrofóbica, o parasita que controla mentes — todos esses elementos são familiares, e o filme não faz questão de escondê-los. Há momentos que parecem cópias diretas, como cenas de procedimentos médicos assistidos por robôs que ecoam 2001: Uma Odisseia no Espaço ou Prometheus. Embora Flying Lotus tente injetar uma perspectiva autoral com sua estética psicodélica, o filme nunca transcende suas referências para se tornar algo verdadeiramente novo.

Essa falta de originalidade é especialmente frustrante porque o filme acena para ideias provocadoras — como a consciência coletiva do parasita que rejeita a colonização humana — mas não as desenvolve. O resultado é uma obra que parece um pastiche, mais preocupada em prestar homenagem do que em forjar sua própria identidade. Comparado a outros filmes recentes de terror sci-fi, como Não! Não Olhe! (2022) ou até mesmo a animação Looney Tunes: O Dia em que a Terra Explodiu (2024), Ash carece do frescor ou da irreverência necessários para se destacar.

Impacto e Recepção

Apesar de suas falhas, Ash: Planeta Parasita encontrou certo sucesso no Prime Video, alcançando o topo dos mais assistidos em 19 países, segundo o Flixpatrol. Sua bilheteria, no entanto, foi um fracasso, arrecadando apenas US$ 1,08 milhão mundialmente. As críticas são mistas: enquanto alguns elogiam a atmosfera e a ousadia visual (73% no Rotten Tomatoes), outros apontam a narrativa desconexa e a falta de impacto emocional. O filme parece dividir opiniões entre aqueles que apreciam sua experimentação e os que se sentem decepcionados por sua execução desleixada.

Minha Conclusão Final: Um Experimento Promissor, Mas Incompleto

Ash: Planeta Parasita é um filme que seduz pela forma, mas decepciona pelo conteúdo. Flying Lotus demonstra potencial como diretor, com uma visão estética única e uma trilha sonora envolvente, mas sua inexperiência no formato de longa-metragem é evidente na falta de coesão narrativa e na incapacidade de sustentar a tensão. O elenco, liderado por Eiza González, faz o possível com um roteiro que não explora todo o seu potencial, e as referências a clássicos do gênero, embora respeitosas, acabam pesando contra a originalidade da obra. É uma pena, porque há lampejos de algo especial aqui — momentos em que o filme quase se torna o pesadelo cósmico que promete ser. No final, porém, ele se contenta em ser um exercício de estilo, mais próximo de um videoclipe estendido do que de um marco do terror sci-fi.

Nota: 2,5/5

O filme merece crédito por sua ambição visual e pela tentativa de Flying Lotus de trazer sua voz autoral ao gênero, mas suas falhas narrativas e a falta de impacto emocional o impedem de alcançar o nível dos clássicos que referencia. É uma experiência que vale a pena para fãs de terror psicológico e sci-fi experimental, mas aqueles que buscam uma história envolvente ou sustos memoráveis provavelmente sairão desapontados.

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