Minha Crítica: Arquivo 81
Arquivo 81, série de terror e suspense lançada pela Netflix em janeiro de 2022, é uma adaptação do podcast homônimo criado por Daniel Powell e Marc Sollinger. Com produção executiva de James Wan, conhecido por franquias como Invocação do Mal, a série prometia ser um marco no gênero, mesclando elementos de horror sobrenatural, found footage e mistério psicológico. Ao longo de seus oito episódios, a produção entrega momentos de tensão e uma atmosfera inquietante, mas tropeça em sua tentativa de equilibrar uma narrativa complexa com resoluções que nem sempre justificam o investimento emocional do espectador. A seguir, exploramos os pontos altos e baixos dessa jornada, que, apesar de seus méritos, deixa um gosto agridoce.
Enredo e Premissa: Um Mergulho no Desconhecido
A série acompanha Dan Turner (Mamoudou Athie), um arquivista especializado em restaurar fitas antigas, que aceita um trabalho misterioso oferecido pelo enigmático Virgil Davenport (Martin Donovan). Sua tarefa é recuperar uma coleção de fitas VHS danificadas, gravadas em 1994 por Melody Pendras (Dina Shihabi), uma documentarista que investigava os moradores do edifício Visser, em Nova York, antes de um incêndio devastador. Conforme Dan mergulha nas imagens, ele descobre segredos perturbadores envolvendo uma seita, rituais ocultos e uma entidade extradimensional chamada Kaelego. A narrativa alterna entre o presente (2022) e o passado (1994), criando uma conexão misteriosa entre Dan e Melody, que se intensifica à medida que ele se torna obcecado em desvendar o que aconteceu com ela.
A premissa é intrigante, evocando clássicos do horror como O Chamado e A Bruxa de Blair, com seu uso criativo do formato found footage. A ideia de um arquivista reconstruindo uma história fragmentada através de fitas antigas é cativante, especialmente por brincar com a nostalgia dos anos 90 e a materialidade de mídias analógicas. A série também acerta ao explorar temas como trauma, perda e a busca por conexão, que ancoram as motivações de Dan e Melody. No entanto, a trama sofre com uma ambição desmedida, introduzindo elementos de ficção científica, viagens temporais e mitologia cósmica que nem sempre se harmonizam, resultando em uma narrativa que, por vezes, parece mais confusa do que misteriosa.
Atmosfera e Direção: O Ponto Alto da Série
Um dos maiores trunfos de Arquivo 81 é sua ambientação. A série cria uma atmosfera opressiva e claustrofóbica, tanto no isolamento de Dan em uma cabana remota quanto nos corredores sombrios do edifício Visser, que exsuda uma aura de decadência e segredo. A direção, dividida entre Rebecca Thomas, Haifaa Al-Mansour e a dupla Justin Benson e Aaron Moorhead, é um destaque. Cada diretor imprime sua marca: Benson e Moorhead trazem um toque de horror cósmico, Al-Mansour foca nas camadas emocionais, e Thomas equilibra o tom geral com um misto de suspense e absurdos bem dosados. A fotografia, com tons escuros e texturas granuladas que remetem às fitas VHS, reforça a sensação de estar desenterrando algo proibido.
A trilha sonora, composta por Ben Salisbury e Geoff Barrow, é outro acerto, com sons dissonantes, sussurros e cantos que amplificam o desconforto. Há momentos em que o som alone é suficiente para manter o espectador na ponta da cadeira, como nas cenas em que Melody explora os porões do Visser. A série também faz uso inteligente de silêncios, permitindo que a tensão se construa organicamente. Esses elementos técnicos elevam Arquivo 81 acima de muitas produções de terror da Netflix, que frequentemente pecam por sustos baratos ou excesso de exposição.
Personagens e Atuações: Uma Conexão Frágil
O elenco de Arquivo 81 é competente, mas a construção dos personagens deixa a desejar. Mamoudou Athie entrega uma performance sólida como Dan, transmitindo vulnerabilidade e obsessão, mas o roteiro não lhe dá profundidade suficiente para que o público se conecte plenamente. Sua backstory, envolvendo uma tragédia familiar, é introduzida de forma interessante, mas explorada de maneira superficial, servindo mais como um dispositivo narrativo do que como uma fonte de empatia. Dina Shihabi, como Melody, tem momentos de brilho, especialmente quando sua curiosidade dá lugar ao medo, mas sua personagem sofre com diálogos inconsistentes e decisões que, por vezes, desafiam a lógica.
Os personagens secundários, como o amigo de Dan, Mark (Matt McGorry), e a mãe adotiva de Melody, Cassandra (Julia Chan), têm papéis limitados e não conseguem deixar uma marca significativa. Martin Donovan, como Virgil, é eficaz em sua ambiguidade, mas sua presença é subaproveitada. A falta de desenvolvimento desses personagens secundários contribui para a sensação de que a série prioriza o mistério em detrimento das relações humanas, o que enfraquece o impacto emocional da narrativa.
Roteiro e Temas: Potencial Não Realizado
O roteiro, liderado pela showrunner Rebecca Sonnenshine, é um misto de acertos e falhas. Nos primeiros episódios, Arquivo 81 brilha ao construir um quebra-cabeça que prende o espectador, com revelações bem dosadas e cliffhangers eficazes. A série explora temas como a manipulação da memória, a fragilidade da realidade e a dependência espiritual, que ressoam com o horror cósmico do podcast original. A ideia de que o culto do Visser busca um "outro mundo" como escape para traumas pessoais é fascinante, mas a execução deixa a desejar.
Conforme a temporada avança, o roteiro começa a se perder em sua própria complexidade. A introdução de conceitos como dimensões paralelas, alucinógenos e entidades demoníacas dilui o foco, e as explicações muitas vezes recorrem a diálogos expositivos que subestimam o público. O final, embora ambíguo e provocador, frustra por deixar mais perguntas do que respostas, especialmente considerando que a série foi cancelada pela Netflix após a primeira temporada. Essa falta de resolução amplifica a sensação de que Arquivo 81 prometeu mais do que conseguiu entregar.
Impacto e Recepção
Arquivo 81 foi um sucesso inicial na Netflix, alcançando o Top 10 em vários países e recebendo elogios da crítica, com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes. A série foi celebrada por sua atmosfera, direção e premissa inovadora, mas dividiu opiniões quanto ao ritmo e à coerência narrativa. Para alguns, como o crítico do Omelete, a série é "curiosa e hipnotizante", mas peca por não conectar sua estética a uma história emocionalmente satisfatória. Para outros, como o CinePOP, é um "programão" que engaja até o último minuto. No entanto, o cancelamento abrupto pela Netflix, possivelmente por questões orçamentárias, deixou fãs revoltados, como expresso em posts no X.
Minha Conclusão Final: Um Experimento Imperfeito, mas Memorável
Arquivo 81 é uma série que seduz com sua premissa intrigante, atmosfera imersiva e direção talentosa, mas não cumpre todo o seu potencial devido a um roteiro sobrecarregado e personagens subdesenvolvidos. É uma experiência que recompensa quem aprecia o horror atmosférico e narrativas enigmáticas, mas pode frustrar aqueles que buscam respostas claras ou conexões emocionais profundas. O cancelamento prematuro pela Netflix amplifica suas falhas, mas não apaga seus méritos como uma obra que ousa experimentar dentro do gênero.
Nota: 3/5
A série merece ser assistida por fãs de terror e suspense, mas prepare-se para uma jornada que, embora envolvente, termina com mais perguntas do que respostas. Se você gosta de mistérios que desafiam a lógica e atmosferas que ficam na mente, Arquivo 81 é uma adição valiosa ao catálogo da Netflix, ainda que imperfeita.
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