Bailarina - Do Universo de John Wick (2025)

Minha Crítica ao Filme: Bailarina – Do Universo de John Wick (2025)

O universo de John Wick, criado por Chad Stahelski e Derek Kolstad, é um fenômeno que redefiniu o cinema de ação contemporâneo. Com sua mistura de mitologia intricada, coreografias de luta impecáveis e um estilo visual que equilibra elegância e brutalidade, a franquia conquistou uma legião de fãs ao longo de quatro filmes. Bailarina – Do Universo de John Wick, dirigido por Len Wiseman e estrelado por Ana de Armas, é a primeira incursão cinematográfica derivada da série principal, prometendo expandir o mundo dos assassinos profissionais com uma nova protagonista. Ambientado entre os eventos de John Wick 3: Parabellum e John Wick 4: Baba Yaga, o filme apresenta Eve Macarro, uma jovem treinada pela organização Ruska Roma em busca de vingança pela morte de seu pai. Apesar de suas qualidades técnicas e da performance magnética de Ana de Armas, Bailarina tropeça ao tentar equilibrar sua identidade própria com a sombra imponente do legado de John Wick, resultando em uma experiência que é, ao mesmo tempo, empolgante e frustrantemente genérica.

Enredo e Contexto

A trama de Bailarina é, em essência, uma história de vingança clássica. Eve Macarro (Ana de Armas), ainda criança, testemunha o assassinato brutal de seu pai por uma organização criminosa misteriosa. Órfã, ela é acolhida pela Ruska Roma, uma facção que opera dentro do universo de John Wick, onde é treinada em uma academia de balé que funciona como fachada para formar assassinas letais. Anos depois, Eve embarca em uma missão pessoal para vingar seu pai, enfrentando adversários formidáveis e descobrindo segredos sobre sua própria história. A narrativa se conecta ao universo maior por meio de participações de personagens icônicos, como Winston (Ian McShane), Charon (Lance Reddick, em uma aparição póstuma comovente) e o próprio John Wick (Keanu Reeves), cuja presença é usada para situar o filme na linha do tempo da franquia.

Embora a premissa seja familiar, o roteiro de Shay Hatten (John Wick 3 e 4) tenta injetar frescor ao explorar a dualidade entre a delicadeza do balé e a violência desenfreada de Eve. No entanto, a promessa de integrar o balé como um elemento central da narrativa não se concretiza plenamente. A ideia de uma escola de assassinas disfarçada de academia de dança é fascinante, mas o filme não mergulha profundamente nesse conceito, utilizando-o mais como um pano de fundo estilizado do que como um motor narrativo. A história, por sua vez, segue uma estrutura previsível, com momentos de exposição que tentam amarrar Bailarina à mitologia de John Wick, mas que muitas vezes soam forçados ou redundantes.

Direção e Estilo Visual

Len Wiseman, conhecido por Anjos da Noite e O Vingador do Futuro, assume a direção com uma abordagem que busca honrar o DNA da franquia, mas carece da precisão autoral de Chad Stahelski. As sequências de ação, supervisionadas em parte por Stahelski (que também atua como produtor), são o ponto alto do filme. Wiseman entrega cenas de combate vibrantes e criativas, com destaque para momentos como a luta com um lança-chamas em um cenário gelado e uma sequência que mistura granadas e improvisos cômicos com objetos cotidianos, como pratos e eletrodomésticos. A coreografia de Eve é distinta da de John Wick: enquanto o Baba Yaga é metódico e preciso, Eve é impulsiva, adaptável e caótica, usando o ambiente a seu favor de maneira inventiva. Essa diferenciação confere ao filme uma identidade própria, ainda que não totalmente explorada.

Visualmente, Bailarina mantém a estética neo-noir que define a franquia, com uma paleta de cores que alterna entre tons frios e quentes, reforçando o contraste entre a frieza do mundo dos assassinos e a paixão de Eve por sua vingança. A direção de fotografia de Romain Lacourbas é competente, com enquadramentos que valorizam a fisicalidade das lutas, embora não alcance o mesmo nível de sofisticação dos planos aéreos e sequências sem cortes que Stahelski tornou marca registrada da série. Há momentos em que a mise-en-scène de Wiseman parece menos inspirada, com enquadramentos genéricos que não exploram todo o potencial do cenário ou da ação.

Atuações e Personagens

Ana de Armas é, sem dúvida, o coração pulsante de Bailarina. Sua performance é um equilíbrio impressionante de vulnerabilidade e ferocidade. Eve é uma protagonista que carrega o peso de seu trauma, mas também uma determinação quase feral, traduzida em sequências de ação que exigiram um treinamento físico intenso da atriz. De Armas não apenas cumpre as exigências do papel, mas também injeta carisma e humanidade em uma personagem que poderia facilmente cair no estereótipo da “assassina durona”. Sua habilidade de transitar entre momentos de fragilidade emocional e explosões de violência é um dos maiores trunfos do filme, provando que ela está pronta para carregar uma franquia de ação.

O elenco de apoio, embora repleto de nomes de peso, é subutilizado. Anjelica Huston retorna como a Diretora da Ruska Roma, trazendo uma presença imponente, mas com tempo de tela limitado. Ian McShane e Lance Reddick oferecem continuidade ao universo, mas suas participações são mais funcionais do que essenciais. Keanu Reeves, por sua vez, aparece em momentos estratégicos que servem como fan service, mas sua presença, embora bem-vinda para os fãs, às vezes parece uma muleta narrativa, como se os produtores temessem que o filme não se sustentasse sem o Baba Yaga. Outros atores, como Norman Reedus e Gabriel Byrne, têm papéis secundários que não deixam marca significativa, com arcos que se perdem na edição ou não recebem o desenvolvimento necessário.

Pontos Fortes e Fraquezas

Bailarina brilha quando se concentra na ação e na construção de Eve como uma nova força no universo de John Wick. As sequências de combate são inventivas e bem executadas, com destaque para o terceiro ato, onde o filme encontra seu ritmo e entrega um espetáculo visual que rivaliza com os melhores momentos da franquia. A trilha sonora de Tyler Bates e Joel J. Richard complementa a ação com batidas pulsantes que amplificam a energia das cenas.

No entanto, o filme sofre com uma narrativa que não ousa o suficiente. A história de vingança é genérica e não explora profundamente as nuances da mitologia da Ruska Roma ou do universo maior. A tentativa de conectar Bailarina aos eventos de John Wick resulta em momentos que parecem forçados, como se o filme tivesse medo de se desvencilhar completamente do legado de seu antecessor. Além disso, a primeira metade do longa é irregular, alternando entre sequências de ação empolgantes e momentos expositivos que carecem de profundidade emocional. A falta de um vilão memorável também é um ponto fraco: o Chanceler de Gabriel Byrne é funcional, mas não tem o impacto de antagonistas como o Marquês de John Wick 4.

Impacto e Legado

Bailarina é um passo cauteloso na expansão do universo de John Wick. Embora não alcance o mesmo nível de excelência dos filmes dirigidos por Stahelski, o longa prova que há espaço para novas histórias e protagonistas na franquia. Ana de Armas demonstra potencial para liderar uma sequência, e a introdução da Kikimora como uma figura mitológica paralela ao Baba Yaga abre possibilidades interessantes para o futuro. Contudo, o filme também expõe os desafios de criar um derivado que seja ao mesmo tempo fiel à franquia e inovador. A dependência de conexões com John Wick e a falta de ousadia narrativa sugerem que a Lionsgate ainda está tateando o terreno para encontrar o equilíbrio ideal.

Em termos comerciais, Bailarina teve um desempenho modesto, arrecadando cerca de US$ 24,5 milhões em seu fim de semana de estreia nos EUA, aquém das expectativas para um filme com orçamento estimado em US$ 90 milhões. A concorrência com outros blockbusters de verão, como Missão: Impossível – O Acerto Final, pode ter contribuído para esse resultado. Ainda assim, a recepção crítica tem sido majoritariamente positiva, com 77% de aprovação no Rotten Tomatoes, destacando a ação e a performance de De Armas, mas apontando a falta de originalidade como um obstáculo.

Minha Conclusão Final 

Bailarina – Do Universo de John Wick é um filme de ação competente que entrega o que promete: sequências de luta empolgantes, uma protagonista carismática e vislumbres do universo que os fãs adoram. Ana de Armas carrega o filme com uma performance física e emocional que a estabelece como uma estrela de ação, mas a narrativa genérica e a hesitação em se afastar da sombra de John Wick limitam seu impacto. Len Wiseman faz um trabalho sólido, mas sua direção não tem a mesma visão autoral que tornou a franquia principal um marco do gênero. Para os fãs de John Wick, Bailarina é uma adição divertida e cheia de adrenalina, mas aqueles que esperavam uma evolução mais ousada do universo podem sair com a sensação de que o filme dança bem, mas não escolhe sua própria coreografia.

Nota: 3/5

Em resumo, a nota 3/5 reflete um filme que é divertido, tecnicamente bem-feito e beneficiado pela performance de Ana de Armas, mas que peca pela falta de ousadia, narrativa genérica e dependência excessiva da franquia original. É uma adição válida ao universo.

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