Extermínio: A Evolução (28 Years Later) (2025)


Minha Crítica Extermínio: A Evolução (28 Years Later) (2025) – Uma Reinvenção Visceral que Tropeça na Própria Ambição

Após mais de duas décadas desde que Extermínio (2002) redefiniu o gênero zumbi com sua abordagem crua, frenética e visceral, Danny Boyle e Alex Garland retornam ao universo apocalíptico com Extermínio: A Evolução (28 Years Later), lançado em 19 de junho de 2025 no Brasil. Prometendo ser o início de uma nova trilogia, o filme carrega o peso de uma franquia icônica que não apenas revitalizou o subgênero zumbi, mas também influenciou obras como The Last of Us e The Walking Dead. Com um elenco estelar, uma estética experimental e uma narrativa que tenta equilibrar horror, drama humano e comentário social, Extermínio: A Evolução é uma obra ambiciosa que entrega momentos de brilhantismo, mas também se perde em suas próprias ideias, resultando em uma experiência que, embora memorável, não alcança o impacto radical do original.

Contexto e Premissa: Um Mundo Transformado

Extermínio: A Evolução se passa 28 anos após o surto inicial do vírus da raiva, que transformou o Reino Unido em um cenário de caos e isolamento. A nação permanece em quarentena, enquanto o resto do mundo segue uma normalidade distante. Nesse contexto, acompanhamos uma comunidade de sobreviventes que encontrou refúgio em uma ilha protegida por muralhas e uma passagem fortificada. A trama foca em uma família composta por Jamie (Aaron Taylor-Johnson), Isla (Jodie Comer) e seu filho de 12 anos, Spike (Alfie Williams), cuja jornada é desencadeada por uma missão ao continente que revela novos horrores, mutações e segredos sobre os infectados e os próprios sobreviventes.

O filme não é uma continuação direta dos eventos de Extermínio ou Extermínio 2 (2007), mas uma expansão do universo, explorando como a humanidade e o vírus evoluíram ao longo de quase três décadas. A ausência de Cillian Murphy como protagonista (embora ele atue como produtor executivo) é sentida, mas a escolha de centrar a narrativa em novos personagens, especialmente no jovem Spike, traz uma perspectiva fresca e emocional ao gênero.

Os Acertos: Estética, Atuações e Reflexões

Danny Boyle, conhecido por sua inquietação visual e experimentação, retorna com uma direção que reforça sua marca autoral. Extermínio: A Evolução é um espetáculo sensorial, filmado majoritariamente com iPhones 15 Pro Max, drones e câmeras digitais, remetendo à estética de vídeo caseiro do original, mas com uma textura moderna e imersiva. A fotografia de Anthony Dod Mantle, que também trabalhou no primeiro filme, captura as paisagens desoladas do norte da Inglaterra com uma beleza melancólica, contrastando com a brutalidade dos infectados. Cenas noturnas, especialmente aquelas com iluminação vermelha em visão noturna, criam uma atmosfera sufocante e memorável. A montagem frenética, com cortes rápidos e zooms abruptos, evoca o caos emocional dos personagens, enquanto a trilha sonora do trio Young Fathers, com sua mistura dissonante de punk rock e eletrônica, amplifica a tensão.

O roteiro de Alex Garland, por sua vez, continua a tradição da franquia de usar os infectados como metáfora para questões humanas. Aqui, ele explora a natureza hereditária da violência, o impacto de ritos e tradições em sociedades fragmentadas e a perda da inocência em um mundo hostil. A escolha de Rudyard Kipling como leitmotiv, com o poema Boots integrado à narrativa, reforça a ideia de um ciclo perpétuo de guerra e destruição, um tema que ressoa com o contexto global de 2025, marcado por pandemias recentes, polarização política e conflitos. A cena em que o poema é recitado, descrita como a mais poderosa do filme por críticos, é um exemplo de como Garland e Boyle elevam o gênero zumbi a um comentário filosófico.

O elenco é outro ponto alto. Aaron Taylor-Johnson entrega um Jamie complexo, um pai dividido entre proteger sua família e confrontar os horrores do continente. Jodie Comer, como Isla, é o coração emocional do filme, transmitindo força e vulnerabilidade em igual medida. Alfie Williams, em sua estreia como Spike, surpreende com uma atuação que captura a dualidade de uma criança forçada a amadurecer rápido demais, mas ainda guiada por impulsos genuínos. Ralph Fiennes, em um papel secundário como o enigmático Dr. Kelson, rouba a cena com uma performance que mistura excentricidade e humanidade, oferecendo um dos momentos mais emocionantes do filme.

Os Tropeços: Ambição Desequilibrada e Falta de Urgência

Apesar de seus méritos, Extermínio: A Evolução sofre com uma narrativa que tenta abraçar múltiplas ideias sem dar a todas o devido peso. O foco no drama familiar, embora emocionalmente envolvente, dilui a urgência e o horror que definiram o primeiro filme. Onde Extermínio (2002) era cru e implacável, com infectados que representavam uma ameaça constante, A Evolução opta por uma abordagem mais introspectiva, relegando os infectados a um papel secundário. Essa escolha, embora válida, frustra as expectativas de fãs que aguardavam o “horror visceral” prometido pela campanha de marketing.

Os novos infectados, apresentados como uma evolução do vírus com variantes mais inteligentes e grotescas, são visualmente impactantes, mas sua lógica no universo da franquia é questionável. Críticas apontam que essas mutações, inspiradas em The Last of Us, parecem desconexas do mundo estabelecido nos filmes anteriores, e algumas escolhas criativas, como a nudez completa dos infectados, geram mais distração do que medo. Além disso, o uso de jump scares baratos em detrimento de uma tensão mais sofisticada compromete a atmosfera em certos momentos.

O roteiro, embora rico em temas, peca por uma estrutura que lembra um videogame, com missões lineares e resoluções que nem sempre respeitam as regras do próprio mundo. A motivação inicial para a jornada dos protagonistas é descrita como “boba” por alguns críticos, e decisões questionáveis de certos personagens enfraquecem a imersão. O cliffhanger final, que prepara o terreno para a sequência Extermínio: O Templo dos Ossos (2026), divide opiniões: para alguns, é uma promessa empolgante de algo maior; para outros, reforça a sensação de que o filme é mais uma introdução do que uma obra completa.

Recepção e Impacto Cultural

A recepção crítica de Extermínio: A Evolução é mista, mas majoritariamente positiva, com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes com base em 81 avaliações. Críticas elogiam a ousadia visual, as atuações e a profundidade temática, mas apontam que o filme não recaptura a força revolucionária do original. No Brasil, a imprensa destaca tanto o experimentalismo de Boyle quanto a falta de impacto do roteiro, com avaliações que variam de “filmaço visceral” a “bonito, mas vazio”. A bilheteria reflete o hype: o filme arrecadou cerca de US$ 56-60 milhões em sua estreia global, superando expectativas para um terror com orçamento de US$ 75 milhões.

Culturalmente, Extermínio: A Evolução chega em um momento oportuno, dialogando com ansiedades contemporâneas sobre pandemias, isolamento e a fragilidade da civilização. Sua abordagem sensorial e o uso de iPhones como ferramenta cinematográfica reforçam a ideia de um cinema que reflete a era digital, enquanto o foco em uma criança protagonista ecoa narrativas recentes como The Last of Us. No entanto, ao priorizar drama e poesia sobre horror, o filme aliena parte do público que esperava um retorno ao caos desenfreado do original.

Minhas Considerações Finais: Um Novo Capítulo com Potencial Inexplorado

Extermínio: A Evolução é uma obra que reflete a maturidade de Danny Boyle e Alex Garland, mas também os desafios de revisitar um clássico em um mundo saturado de histórias apocalípticas. É um filme que impressiona pela estética, emociona com suas performances e provoca com suas reflexões, mas falha em recapturar a urgência e o impacto que fizeram de Extermínio um marco. Como o primeiro capítulo de uma trilogia, ele estabelece um universo intrigante e deixa portas abertas para explorações futuras, mas não se sustenta completamente como uma obra autônoma.

Para fãs da franquia, é uma experiência que vale pela nostalgia e pela promessa do que está por vir. Para novos espectadores, oferece uma visão única do gênero zumbi, mas pode decepcionar aqueles que buscam sustos constantes. No fim, Extermínio: A Evolução é um filme corajoso, imperfeito e profundamente humano – uma evolução, sim, mas que ainda busca encontrar seu lugar no legado da série. 

Nota: 4/5

Essa avaliação reflete os pontos fortes do filme, como a direção ousada de Danny Boyle, as atuações marcantes de Aaron Taylor-Johnson, Jodie Comer e Alfie Williams, a estética sensorial e os temas profundos explorados por Alex Garland. No entanto, a nota não alcança o 5 devido a falhas como a narrativa desequilibrada, a falta de urgência em comparação com o original e alguns elementos que não se integram bem ao universo da franquia, como as mutações dos infectados e o uso de jump scares. 

É um filme impressionante, mas com potencial parcialmente inexplorado.

Um comentário:

  1. Excelente análise! Gostei muito de como você abordou a evolução da narrativa da franquia, destacando os pontos fortes de "28 Years Later" em relação aos filmes anteriores. A forma como você descreveu o impacto visual e a tensão constante realmente me deixou curioso para assistir. Concordo que a trilogia parece ter encontrado um equilíbrio interessante entre o horror e a reflexão social. Você acha que o desfecho abre espaço para mais histórias no mesmo universo? Parabéns pelo texto!

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