Peter Pan - Pesadelo na Terra do Nunca (2025)

Minha Crítica: Peter Pan - Pesadelo na Terra do Nunca (2025)

"Peter Pan: Pesadelo na Terra do Nunca" (2025), dirigido por Scott Chambers, é uma ousada e controversa reinterpretação do clássico conto de J.M. Barrie, inserido no chamado "Poohniverse", um universo cinematográfico que transforma histórias infantis em narrativas de terror. Após o sucesso relativo de "Ursinho Pooh: Sangue e Mel", esta nova incursão no gênero tenta capturar a mesma energia de subverter expectativas, mas acaba tropeçando em suas próprias ambições, resultando em uma experiência que oscila entre o intrigante e o desajeitado.

A premissa do filme é, no mínimo, provocadora. Wendy Darling, interpretada por Megan Placito, embarca em uma jornada sombria para resgatar seu irmão Michael, sequestrado por um Peter Pan cruel e psicótico, vivido por Martin Portlock. Longe do menino eterno e encantador, este Peter é uma figura distorcida, um vilão que escraviza crianças em uma Terra do Nunca corrompida, onde a magia dá lugar a um pesadelo visceral. Acompanhada por uma Sininho viciada em heroína (Kit Green), que acredita estar consumindo pó de fada, Wendy enfrenta horrores que desafiam a inocência do conto original. A narrativa explora temas como trauma, abuso e loucura, sugerindo que Peter Pan é um homem marcado por um passado de violência, cuja missão de "salvar" crianças é, na verdade, uma fachada para atos de crueldade.

O filme acerta em sua proposta de desconstruir a mitologia de Peter Pan. A ideia de transformar a Terra do Nunca em um cenário de horror psicológico, com uma estética suja e opressiva, é criativa e refrescante. Scott Chambers, que também assina o roteiro, demonstra coragem ao mergulhar em uma releitura tão radical, especialmente ao abordar elementos como a dependência química de Sininho, que, apesar de polêmica, adiciona uma camada de tragédia ao personagem. A atuação de Kit Green como Sininho é um dos pontos altos, trazendo uma mistura de vulnerabilidade e perturbação que rouba a cena em vários momentos. A personagem, com sua crença delirante de que a heroína é pó mágico, é ao mesmo tempo patética e assustadora, uma escolha que reflete o tom ousado do filme.

No entanto, a execução deixa a desejar em vários aspectos. A narrativa sofre com uma falta de foco, oscilando entre momentos de gore explícito e tentativas de construir uma mitologia mais profunda, sem nunca se comprometer totalmente com nenhum dos dois. A motivação de Peter Pan, embora interessante em teoria, carece de desenvolvimento. O filme sugere que seu comportamento é resultado de abusos sofridos na infância, mas essa ideia é tratada de forma superficial, sem explorar o potencial psicológico que poderia torná-lo um vilão mais complexo. Em vez disso, ele se resume a um antagonista genérico que mata por matar, o que enfraquece a narrativa. Além disso, a produção parece limitada por um orçamento modesto, com efeitos especiais que, embora funcionais, não impressionam, e uma direção de fotografia que, em alguns momentos, parece apressada.

Outro problema é o ritmo. Com apenas 87 minutos, o filme tenta abarcar muitas ideias — desde o terror slasher até uma crítica às idealizações da infância —, mas acaba se perdendo em cenas repetitivas de violência que, embora impactantes, não avançam a trama. O gore, descrito por alguns críticos como "exagerado, mas não ao nível de Terrifier", é um dos elementos que dividem opiniões. Para fãs do gênero, as cenas de violência podem ser um atrativo, mas para quem busca uma história mais coesa, elas parecem gratuitas. A comparação com os filmes do "Poohniverse" anteriores, como "Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2", é inevitável, e "Peter Pan: Pesadelo na Terra do Nunca" não alcança o mesmo equilíbrio entre absurdo e criatividade que seu antecessor.

A direção de Scott Chambers é competente, mas não excepcional. Ele consegue criar uma atmosfera desconfortável, especialmente nas cenas que exploram a decadência da Terra do Nunca, mas falha em dar profundidade aos personagens secundários, como os Meninos Perdidos, que aparecem mais como alívio cômico do que como peças essenciais da história. A trilha sonora, por sua vez, é funcional, mas não memorável, e não contribui significativamente para a construção do clima de terror.

Um aspecto que merece destaque é a tentativa de dialogar com o contexto original de J.M. Barrie. A obra de Barrie, embora infantil, sempre teve camadas sombrias, especialmente na forma como retrata a recusa de Peter em crescer e sua relação ambígua com a morte. O filme tenta explorar isso, mas não vai tão longe quanto poderia. A ideia de uma Terra do Nunca psicológica, onde Peter leva as crianças para uma espécie de "morte libertadora", é fascinante, mas o roteiro não se aprofunda o suficiente para torná-la impactante. Em vez disso, o filme se apoia em choques visuais e reviravoltas que nem sempre funcionam.

Em termos de recepção, as críticas são mistas. No IMDb, o filme tem uma média de 4.9/10, com alguns elogiando a originalidade e outros criticando a falta de coerência narrativa. No Reddit, fãs do gênero horror apreciam a iniciativa de transformar contos infantis em filmes de terror, mas muitos concordam que este não é tão bem-sucedido quanto os filmes do Pooh. O público brasileiro, conforme comentários no Filmow, parece dividido, com uma média de 2.4/5 baseada em 57 votos, indicando que a proposta ousada não conquistou a todos.

Em resumo, "Peter Pan: Pesadelo na Terra do Nunca" é uma experiência que fascina por sua audácia, mas frustra por sua execução irregular. Ele brilha quando abraça sua própria loucura, como na reimaginação de Sininho, mas perde força ao tentar ser mais do que um slasher exploitation sem os recursos ou a profundidade necessários. Para fãs de horror que apreciam experimentações e não se importam com falhas narrativas, o filme pode ser uma diversão mórbida. Para outros, no entanto, ele pode parecer uma oportunidade perdida de explorar o potencial sombrio de um clássico tão rico.

Nota: 3/5

O filme é uma tentativa interessante de subverter um clássico, com momentos de brilho, mas não cumpre todo o seu potencial devido a problemas de ritmo, desenvolvimento raso e execução inconsistente.

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