O Macaco (2025)


Minha Crítica: O Macaco (2025) – Um Terrir Descontrolado que Dança Entre o Absurdo e a Frustração

O cinema de terror, quando bem executado, tem o poder de mexer com nossas emoções mais primitivas, seja pelo medo visceral, pela tensão psicológica ou até pela catarse cômica de um susto bem colocado. O Macaco, dirigido por Osgood Perkins e baseado no conto homônimo de Stephen King, tenta navegar por essas águas, mas acaba se afogando em sua própria indecisão tonal. Com uma premissa que mistura um brinquedo amaldiçoado, mortes grotescas e um humor negro que oscila entre o genial e o constrangedor, o filme é uma montanha-russa que diverte em alguns momentos, mas deixa o espectador com a sensação de que poderia ter sido muito mais. É um exercício de estilo que, embora tenha momentos de brilho, tropeça em sua ambição de ser tudo ao mesmo tempo: terror, comédia, drama familiar e sátira.

A trama acompanha os irmãos gêmeos Bill e Hal (ambos interpretados por Theo James na fase adulta e Christian Convery na infância), que encontram um macaco de brinquedo no sótão de seu pai. Esse objeto, um sinistro Jolly Chimp que troca os pratos de choque do conto original por um tambor, desencadeia uma série de mortes bizarras e violentas sempre que suas baquetas ecoam. Os irmãos tentam se livrar do macaco, mas o artefato amaldiçoado parece ter vontade própria, reaparecendo anos depois para assombrá-los na vida adulta. A narrativa, que começa em 1999 com flashbacks nostálgicos, salta para o presente, explorando o impacto do trauma e da maldição na relação distante dos gêmeos, enquanto tenta equilibrar o gore exagerado com reflexões sobre luto e legado familiar.

Osgood Perkins, que conquistou atenção com o atmosférico Longlegs (2024), demonstra mais uma vez sua habilidade em criar imagens visualmente marcantes. A fotografia de Nico Aguilar é um dos pontos altos do filme, com uma paleta de cores que transita entre o nostálgico e o onírico, evocando uma sensação de desconforto que remete aos terrores infantis. O design de produção também brilha, especialmente na construção do macaco, que é ao mesmo tempo grotesco e carismático, com sua aparência envelhecida e um tambor que ressoa como um prenúncio de morte. Cada cena com o brinquedo é cuidadosamente composta, com sombras profundas e enquadramentos que amplificam sua presença ameaçadora. O som, com destaque para a trilha de Edo Van Breemen e o design sonoro que faz cada batida do tambor soar como um trovão, adiciona uma camada de tensão que, quando funciona, é genuinamente inquietante.

No entanto, é na execução da narrativa que O Macaco começa a patinar. Perkins, que também assina o roteiro ao lado de Stephen King, parece dividido entre fazer um filme de terror puro, uma comédia escrachada ou um drama sobre traumas geracionais. O resultado é uma obra que não se compromete totalmente com nenhum desses caminhos, deixando o espectador em um limbo emocional. As mortes, que lembram a franquia Premonição em sua criatividade e exagero, são o coração pulsante do filme. Cenas como a de uma corretora explodindo com um tiro acidental ou um personagem sendo atacado por vespas são tão absurdas que arrancam risadas, mas a repetição desse recurso faz com que o impacto inicial se dilua. O que começa como uma diversão mórbida se torna previsível, e o filme não consegue sustentar a tensão entre as sequências de gore.

O humor, que deveria ser um diferencial, é outro ponto de inconsistência. Há momentos em que o tom ácido e nonsense funciona, como nas interações entre os gêmeos na infância, onde Christian Convery entrega uma performance cativante ao diferenciar as personalidades de Bill e Hal. Theo James, por sua vez, faz o que pode com personagens adultos que carecem de profundidade, mas sua química com Tatiana Maslany, que interpreta uma figura importante na trama, é um dos poucos momentos em que o filme encontra um equilíbrio emocional. No entanto, o roteiro frequentemente recorre a piadas que cortam a tensão de forma abrupta, como se tivesse medo de se levar a sério por mais de cinco minutos. Essa abordagem lembra os piores momentos de filmes da Marvel, onde uma cena dramática é imediatamente sabotada por um alívio cômico desnecessário.

A tentativa de inserir temas mais profundos, como luto, trauma familiar e a inevitabilidade da morte, é admirável, mas mal desenvolvida. O filme toca nessas questões – especialmente na relação conturbada dos gêmeos com o pai ausente, Petey (Adam Scott) – mas nunca dá espaço para que elas ressoem. As reflexões sobre a mortalidade, que poderiam ter elevado O Macaco a algo mais memorável, são abafadas pelo festival de sangue e risadas. É como se Perkins quisesse fazer um Premonição com a alma de Hereditário, mas o resultado fica mais próximo de um Todo Mundo em Pânico sem a autoconfiança para abraçar o absurdo por completo.

O elenco é um dos pontos fortes, ainda que subutilizado. Theo James traz carisma aos papéis duplos, mas seus personagens não têm arco suficiente para brilhar. Tatiana Maslany rouba a cena em momentos pontuais, com uma energia que oscila entre o sarcástico e o trágico, mas seu papel é reduzido a uma função narrativa. Elijah Wood, em uma participação menor, adiciona um charme excêntrico, mas sua presença é mais um cameo do que um personagem essencial. Christian Convery, como os gêmeos na infância, é o destaque, conseguindo transmitir a inocência e a malícia de crianças marcadas por um objeto que não entendem.

Comparado a outras adaptações de Stephen King, O Macaco não chega ao nível de clássicos como O Iluminado ou mesmo de sucessos recentes como o remake de It – A Coisa. Ele se alinha mais a filmes como A Morte te Dá Parabéns, que misturam terror e comédia com um toque de leveza, mas falta a coesão que torna esses exemplos memoráveis. A campanha de marketing, que vendeu o filme como um terror puro, também contribui para a decepção, já que o público esperando sustos claustrofóbicos encontra uma comédia sangrenta que não sabe se quer assustar ou divertir. Segundo o Deadline, a Neon investiu cerca de 10 milhões de dólares na divulgação, e o trailer, com mais de 100 milhões de visualizações, criou uma expectativa que o filme não cumpre.

Apesar de seus problemas, O Macaco não é um desastre. Há um prazer inegável em sua energia caótica, e os fãs de gore e humor negro encontrarão momentos de diversão genuína. A direção de Perkins, mesmo com suas falhas, mostra um cineasta disposto a arriscar, e a estética cuidadosamente trabalhada eleva o filme acima de produções genéricas do gênero. No entanto, a falta de foco e a incapacidade de equilibrar os tons tornam a experiência frustrante, como uma piada que promete um final brilhante, mas entrega apenas um suspiro. É um filme que diverte enquanto você está na montanha-russa, mas, quando as luzes acendem, você percebe que a viagem não foi tão emocionante quanto parecia.

Nota: 3/5

Essa nota reflete a ambivalência do filme: um espetáculo visual e sangrento que acerta em sua ousadia, mas falha em entregar uma narrativa coesa ou emocionalmente impactante. O Macaco é uma curiosidade que vale a pena para quem busca algo fora da curva, mas não espere uma nova obra-prima do terror ou uma adaptação fiel do conto de King. É, no fim das contas, um terrir que bate o tambor com força, mas desafina na melodia.

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