Minha Crítica: Heart Eyes (2025) – Um Slasher Romântico que Acerta o Coração, Mas Não Corta Profundo
Heart Eyes, dirigido por Josh Ruben e lançado em 2025, é uma proposta audaciosa que tenta equilibrar dois gêneros aparentemente opostos: o romantismo açucarado das comédias românticas e a brutalidade visceral dos slashers. Ambientado no Dia dos Namorados, o filme apresenta uma premissa intrigante: um serial killer conhecido como Heart Eyes Killer (ou HEK, para os íntimos) aterroriza casais apaixonados, transformando a data mais romântica do ano em um banho de sangue. Nesse cenário, somos apresentados a Ally (Olivia Holt), uma publicitária cínica que perdeu a fé no amor, e Jay (Mason Gooding), um otimista incorrigível que acredita em grandes gestos românticos. Quando os dois, colegas de trabalho, são confundidos como um casal pelo assassino, o que começa como uma faísca profissional se transforma em uma corrida frenética pela sobrevivência, entre facadas, risadas e momentos de química inesperada.
O filme se destaca, inicialmente, pela sua coragem em misturar gêneros tão distintos. A ideia de combinar o tom leve e nostálgico de uma comédia romântica dos anos 2000 com a violência estilizada de um slasher à la Pânico é, no papel, fascinante. Heart Eyes não se leva a sério demais, e isso é um dos seus maiores trunfos. O roteiro, assinado por Phillip Murphy, Christopher Landon e Michael Kennedy, está repleto de referências à cultura pop e piadas autorreferenciais que piscam para o público, como se dissessem: “Sabemos que você já viu isso antes, mas vamos te divertir mesmo assim”. A química entre Olivia Holt e Mason Gooding é inegável, ancorando o filme mesmo nos momentos em que a narrativa oscila. Holt, em particular, brilha como Ally, trazendo uma mistura de sarcasmo afiado e vulnerabilidade que faz o espectador torcer por ela, mesmo quando suas decisões beiram o clichê. Gooding, por sua vez, entrega um Jay carismático, cuja energia otimista contrasta perfeitamente com o caos sangrento ao redor.
A direção de Josh Ruben é outro ponto alto. Conhecido por seu trabalho em Um Lobo Entre Nós, Ruben demonstra habilidade em criar sequências de ação estilizadas e mortes criativas que, embora não sejam particularmente assustadoras, são visualmente impactantes. O design do Heart Eyes Killer, com sua máscara de olhos iluminados em forma de coração, é um acerto estético, evocando tanto o terror quanto uma ironia mordaz sobre o romantismo exacerbado do Dia dos Namorados. As cenas de violência são exageradas e campy, com um toque de humor que remete a produções como A Morte te Dá Parabéns. Um destaque é a sequência no drive-in, onde o caos do assassino se mistura com a atmosfera nostálgica de um cinema ao ar livre, criando um momento que é ao mesmo tempo tenso e absurdamente divertido.
No entanto, Heart Eyes não escapa de tropeços. A tentativa de equilibrar romance e horror nem sempre funciona, e o filme sofre com uma narrativa que, por vezes, parece indecisa sobre o que quer ser. Em certos momentos, as cenas românticas interrompem o ritmo do suspense de forma abrupta, como se o filme hesitasse em abraçar completamente sua faceta slasher. A revelação da identidade do assassino, embora criativa (sem spoilers, mas envolve um casal inesperado com um fetiche macabro), carece de impacto emocional ou narrativo, parecendo mais uma conveniência do roteiro do que um clímax bem construído. Além disso, alguns clichês do gênero – como personagens tomando decisões questionáveis ou o assassino aparecendo em locais improváveis sem explicação – podem incomodar quem busca algo mais inovador. A trilha sonora, embora nostálgica e bem escolhida, às vezes reforça demais o tom meloso, o que pode afastar os fãs de horror mais puristas.
Outro aspecto que merece reflexão é a crítica social implícita no filme. Heart Eyes faz um comentário interessante sobre a pressão cultural por “casais perfeitos” e o romantismo forçado do Dia dos Namorados, mas essa ideia não é explorada com a profundidade que poderia. O filme prefere se apoiar na diversão descompromissada, o que é válido, mas deixa a sensação de que poderia ter ido além, especialmente em um momento em que o gênero slasher tem se reinventado com obras mais temáticas, como Feriado Sangrento. Ainda assim, para um filme que se propõe a ser uma “farofa de Dia dos Namorados”, como bem descrito por um crítico, Heart Eyes entrega o que promete: uma mistura de gore, risadas e suspiros que diverte sem pretensões de revolucionar o cinema.
O elenco de apoio, com nomes como Jordana Brewster e Devon Sawa, adiciona um charme extra, embora seus papéis sejam subaproveitados. A produção da Blumhouse e da Spyglass garante um acabamento técnico sólido, com uma fotografia que captura bem a vibe urbana de Seattle (mesmo que as palmeiras revelem a locação real na Nova Zelândia). A bilheteria modesta, com US$ 32 milhões arrecadados globalmente, e a recepção positiva (81% no Rotten Tomatoes) indicam que o filme encontrou seu público, especialmente entre aqueles que apreciam slashers leves e comédias românticas despretensiosas.
Em última análise, Heart Eyes é um filme que acerta mais do que erra, mas não alcança todo o seu potencial. É uma delícia para quem busca uma experiência leve e sangrenta, perfeita para uma sessão de sexta-feira à noite com amigos ou um date descompromissado – desde que você mantenha os olhos abertos para o Heart Eyes Killer. Ele não reinventa a roda, mas entrega uma mistura divertida de romance e carnificina, com momentos que vão fazer você rir, suspirar e, às vezes, revirar os olhos. É um filme que sabe o que é e não tenta ser mais do que isso – e, nesse sentido, é uma pequena vitória.
Nota: 3,5/5
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