Como Treinar O Seu Dragão (2025)

Minha Crítica ao Filme: Como Treinar o Seu Dragão (2025) – Um Remake Fiel que Encanta, Mas Não Ousa Voar Alto

Em um cenário onde Hollywood parece cada vez mais refém da nostalgia, os remakes em live-action de animações clássicas tornaram-se uma constante. A DreamWorks, seguindo os passos da Disney, decidiu revisitar uma de suas joias mais queridas, Como Treinar o Seu Dragão (2010), com uma adaptação em live-action lançada em 2025, dirigida por Dean DeBlois, que também comandou a trilogia animada. Com um elenco jovem e promissor liderado por Mason Thames como Soluço e Nico Parker como Astrid, além do retorno de Gerard Butler como Stoico, o filme carrega a pesada missão de honrar um original aclamado enquanto justifica sua própria existência. O resultado é uma obra que emociona pela fidelidade e cuidado, mas que, ao jogar seguro, deixa de explorar o potencial transformador que o formato live-action poderia oferecer. 

A Essência Preservada: Uma História de Empatia e Transformação

A trama de Como Treinar o Seu Dragão (2025) segue quase à risca o roteiro do filme animado de 2010, que, por sua vez, é inspirado livremente na série de livros de Cressida Cowell. Na ilha fictícia de Berk, vikings e dragões vivem em conflito há gerações. Soluço, um jovem franzino e inventivo, é filho do chefe Stoico, mas não se encaixa na cultura guerreira de seu povo. Subestimado pelo pai e ridicularizado pelos pares, ele busca provar seu valor. Tudo muda quando Soluço derruba um Fúria da Noite, o dragão mais temido, mas, em vez de matá-lo, decide libertá-lo e forma uma amizade improvável com a criatura, batizada de Banguela. Essa conexão revela a verdadeira natureza dos dragões, desafiando tradições vikings e levando Soluço, com a ajuda da feroz Astrid e do excêntrico ferreiro Bocão (Nick Frost), a tentar unir dois mundos em conflito.

O coração da história permanece intacto: é uma narrativa sobre empatia, aceitação e coragem para questionar dogmas. A jornada de Soluço ressoa como um coming-of-age universal, enquanto sua relação com Banguela simboliza a superação de preconceitos. A adaptação mantém essas camadas temáticas, reforçando mensagens sobre inclusão e a redefinição de heroísmo. No entanto, ao optar por uma recriação quase literal, o filme não aprofunda essas ideias nem as atualiza para o contexto contemporâneo, o que poderia ter dado frescor à narrativa.

Fidelidade como Virtude e Limitação

Dean DeBlois, que também assina o roteiro, demonstra um carinho evidente pelo material original. A fidelidade é o maior trunfo do filme, especialmente para os fãs da animação. Cenas icônicas, como o primeiro contato entre Soluço e Banguela, são recriadas com uma precisão quase quadro a quadro, preservando a emoção e a cadência do original. A sequência em que Soluço toca Banguela pela primeira vez, por exemplo, é tão delicada e poderosa quanto na animação, ganhando força extra pela expressividade de Mason Thames e pelos efeitos visuais que tornam o dragão crível sem perder sua fofura característica.

Essa abordagem, porém, é uma faca de dois gumes. A fidelidade garante um reencontro nostálgico, mas limita a capacidade do filme de se destacar como uma obra autônoma. Diferentemente de remakes como Mogli: O Menino Lobo (2016), que reimaginou a animação com um tom mais sombrio e realista, Como Treinar o Seu Dragão (2025) não se arrisca a explorar novas perspectivas narrativas ou visuais. O terceiro ato, em particular, segue a mesma estrutura previsível do original, com a batalha contra a Morte Rubra se desenrolando de forma dinâmica, mas sem surpresas. Para um público que já conhece a história, a falta de ousadia pode gerar uma sensação de déjà-vu.

Um Elenco que Dá Vida a Berk

O elenco é um dos pontos altos do filme. Mason Thames entrega um Soluço cativante, capturando a vulnerabilidade e a obstinação do personagem com uma naturalidade que remete ao Tom Holland de Homem-Aranha. Sua química com Nico Parker, que interpreta Astrid, é convincente, evocando a dinâmica de respeito mútuo e romance nascente vista na animação. Parker traz uma Astrid mais emocionalmente acessível, mas igualmente forte, o que adiciona nuances ao papel.

Gerard Butler, reprisando Stoico, é um destaque à parte. Após dublar o personagem na trilogia animada, ele agora incorpora o chefe viking com uma presença física imponente, mas também com uma vulnerabilidade que humaniza o líder rígido. A relação entre Stoico e Soluço, marcada por desencontros e reconciliação, ganha peso com a atuação de Butler, especialmente nas cenas de conflito e redenção. Nick Frost, como Bocão, injeta humor e carisma, enquanto os coadjuvantes, como Julian Dennison (Perna-de-Peixe) e Gabriel Howell (Melequento), cumprem bem seus papéis, embora os personagens secundários tenham menos espaço para brilhar em comparação com a animação.

Visuais e Efeitos: A Magia de Berk em Live-Action

Visualmente, o filme é um triunfo. A ilha de Berk é recriada com detalhes impressionantes, desde as paisagens rochosas até as casas vikings cobertas de musgo. A fotografia de Nigel Bluck explora tons terrosos e marítimos, criando uma atmosfera que lembra O Senhor dos Anéis em sua escala épica, mas com um toque mais caloroso e acessível. Os efeitos práticos usados para compor o cenário, combinados com o CGI dos dragões, conferem verossimilhança ao universo. Banguela, em particular, é uma conquista técnica: seus olhos expressivos e movimentos caninos mantêm o charme da animação, enquanto a textura de sua pele e o realismo de seu voo o tornam palpável.

As cenas de voo são o ápice visual do filme. Coreografadas com dinamismo e embaladas pela trilha sonora de John Powell, que retorna com uma versão revisitada de sua icônica partitura, essas sequências capturam a sensação de liberdade e aventura que definiu a animação. No entanto, o design de alguns elementos, como os figurinos, poderia ter sido mais ousado. As roupas dos vikings, embora funcionais, não refletem plenamente a diversidade cultural ou as personalidades dos personagens, uma oportunidade perdida para enriquecer o mundo visual.

Trilha Sonora e Ritmo: Nostalgia com Toques de Modernidade

John Powell, cuja trilha original de 2010 foi indicada ao Oscar, retorna com uma partitura que mistura temas clássicos com novos arranjos. Músicas como “Test Drive” reaparecem em momentos-chave, reforçando a nostalgia, enquanto novas composições adicionam frescor às cenas de batalha e exploração. A trilha é um dos elementos que mais conecta o remake ao original, funcionando como uma ponte emocional para os fãs.

O ritmo do filme, no entanto, sofre com a duração de 2 horas e 5 minutos, cerca de 30 minutos mais longo que a animação. Embora o tempo extra permita maior desenvolvimento da relação entre Soluço e Banguela, algumas cenas, especialmente no segundo ato, se arrastam, com diálogos expositivos que poderiam ter sido condensados. O terceiro ato, por outro lado, é dinâmico, mas sua previsibilidade reduz o impacto emocional para quem já conhece o desfecho.

O Dilema do Remake: Necessidade Versus Paixão

A grande questão que paira sobre Como Treinar o Seu Dragão (2025) é: por que ele existe? A animação original, lançada há apenas 15 anos, permanece fresca na memória cultural, com uma trilogia completa, séries animadas e uma base de fãs apaixonada. Diferentemente de contos clássicos como Cinderela, que atravessam gerações, a história de Soluço e Banguela não precisava de uma “atualização”. DeBlois, em entrevistas, admitiu sua relutância inicial em fazer o remake, aceitando o projeto para proteger a integridade da obra original. Essa postura explica a abordagem conservadora, mas também evidencia a falta de um propósito criativo claro.

Ainda assim, o filme não é apenas um caça-níqueis cínico. Há paixão em sua execução, visível no cuidado com os dragões, nas atuações e na recriação de Berk. Para um público novo, especialmente crianças que não cresceram com a animação, o live-action pode ser uma porta de entrada encantadora para esse universo. Para os fãs, é um reencontro carinhoso, mas que não acrescenta muito além da nostalgia.

Minha Conclusão Final: Um Voo Seguro, Mas Não Memorável

Como Treinar o Seu Dragão (2025) é um remake competente, visualmente deslumbrante e emocionalmente eficaz, que honra a animação original com uma fidelidade quase reverente. Mason Thames e Gerard Butler ancoram a narrativa com atuações sensíveis, enquanto os efeitos visuais e a trilha de John Powell recriam a magia de Berk. No entanto, ao priorizar a segurança em detrimento da inovação, o filme não alcança o impacto transformador de seu predecessor animado. É uma adaptação que aquece o coração, mas não ousa voar tão alto quanto Banguela.

Nota: 3,5/5

O filme é um sucesso em capturar a essência da história, mas perde pontos pela falta de ousadia e por uma duração que nem sempre justifica seu ritmo. Recomendado para fãs da franquia e para quem busca uma aventura familiar sólida, mas aqueles que esperam uma reinvenção podem se sentir frustrados. Com uma sequência confirmada para 2027, há esperança de que a franquia encontre um caminho mais autoral nos próximos capítulos.

Until Dawn: Noite de Terror (2025)

Minha Crítica: Until Dawn - Noite de Terror (2025)

O cinema de terror vive um momento peculiar, onde adaptações de videogames tentam encontrar seu espaço entre a fidelidade ao material original e a necessidade de funcionar como uma obra independente. Until Dawn: Noite de Terror, dirigido por David F. Sandberg, entra nesse ringue com a promessa de transformar o aclamado jogo de 2015 da Supermassive Games em uma experiência cinematográfica que honre sua essência, mas também traga algo novo. O resultado, porém, é uma mistura ambiciosa, mas irregular, que oscila entre momentos de diversão despretensiosa e tropeços narrativos que deixam o espectador com a sensação de que o filme poderia ter sido mais.

A trama segue Clover (Ella Rubin), uma jovem atormentada pelo desaparecimento de sua irmã, Melanie, ocorrido há um ano. Junto com um grupo de amigos – Max (Michael Cimino), Nina (Ji-young Yoo), Megan (Odessa A’zion) e Abe (Belmont Cameli) – ela retorna ao remoto Vale Glore, onde Melanie foi vista pela última vez. O grupo se abriga em um centro de visitantes abandonado, mas logo descobre que está preso em um loop temporal sobrenatural: cada noite, eles são caçados por diferentes ameaças, de assassinos mascarados a criaturas grotescas, e ao morrerem, acordam no início da mesma noite. Para escapar, precisam sobreviver até o amanhecer, mas com um número limitado de “vidas”.

O filme se apresenta como uma “carta de amor ao gênero de terror”, e nisso, pelo menos, é honesto. Sandberg, conhecido por Quando as Luzes se Apagam e Annabelle 2, demonstra familiaridade com os tropos do horror, utilizando o loop temporal para explorar diversos subgêneros: slasher, sobrenatural, gore e até found footage. Cada noite traz uma nova ameaça, como se o filme fosse uma antologia condensada, e essa abordagem cria sequências criativas de mortes – muitas delas violentas e visualmente impactantes, com destaque para os efeitos práticos que reforçam o tom visceral. Há um prazer quase sádico em ver os personagens enfrentarem perigos variados, desde machadadas na cabeça até explosões corporais, e o filme não tem vergonha de abraçar o trash, o que pode ser um ponto forte para quem busca diversão descompromissada.

No entanto, a ambição de Until Dawn em ser tantas coisas ao mesmo tempo é também sua maior fraqueza. A narrativa tenta equilibrar o horror com um drama psicológico centrado na culpa e na busca de Clover por respostas sobre a irmã, mas esses elementos emocionais ficam subdesenvolvidos. Os personagens, apesar de bem interpretados – Ella Rubin entrega uma performance sólida, com momentos de fragilidade e desespero convincentes –, são arquétipos típicos do gênero: a protagonista traumatizada, o ex-namorado arrependido, a amiga cética, o medroso cômico. Essa falta de profundidade faz com que o espectador se importe mais com as mortes criativas do que com o destino emocional do grupo, o que enfraquece o impacto da história.

A relação com o jogo original é outro ponto de discórdia. Diferente de adaptações como The Last of Us, que buscam recriar a narrativa do game, Until Dawn opta por uma história original no mesmo universo, mantendo apenas referências sutis, como a presença do Dr. Hill (Peter Stormare, reprisando seu papel do jogo, mas em uma versão mais enigmática) e easter eggs, como a cabana nevada vista no final. Essa escolha é compreensível – o jogo já é uma experiência cinematográfica interativa, e uma adaptação literal poderia parecer redundante –, mas frustra quem esperava ver elementos icônicos, como a trama de vingança ou a mitologia dos Wendigos, mais presentes. O loop temporal, inspirado em filmes como A Morte Te Dá Parabéns e No Limite do Amanhã, é uma adição interessante, mas por vezes parece forçado, como se o filme estivesse tentando se distanciar demais do material-base para justificar sua existência.

Visualmente, o filme tem méritos. Sandberg usa a ambientação do Vale Glore – um misto de floresta claustrofóbica e instalações abandonadas – para criar uma atmosfera opressiva, reminiscente de clássicos do terror dos anos 2000. A fotografia de Maxime Alexandre alterna entre tons frios e sombras densas, enquanto a trilha de Benjamin Wallfisch amplifica a tensão, embora caia em clichês em alguns momentos. Os efeitos práticos, como já mencionado, são um destaque, mas o CGI, usado em criaturas e cenas mais fantásticas, varia de qualidade, às vezes quebrando a imersão.

O roteiro, escrito por Blair Butler e Gary Dauberman, é outro aspecto que divide. Por um lado, ele acerta ao não se levar muito a sério, inserindo humor em doses certas – algumas falas de Max provocam risadas genuínas, mesmo que beirem o cringe. Por outro, a narrativa se perde na própria repetição. As primeiras noites são envolventes, mas conforme o filme avança, a falta de explicações claras sobre o loop temporal e a mitologia do vale começa a frustrar. O final, embora amarre algumas pontas e deixe ganchos para uma possível sequência, é anticlimático, com revelações que não surpreendem tanto quanto prometem.

Until Dawn: Noite de Terror é, no fim das contas, um filme que diverte, mas não transcende. Ele funciona como um passatempo para fãs de terror que apreciam clichês bem executados e mortes inventivas, mas decepciona como adaptação por se afastar demais do jogo e não oferecer uma narrativa tão memorável quanto o original. Sandberg mostra talento para o gênero, e o elenco jovem carrega o filme com energia, mas a falta de ousadia em explorar a mitologia e a superficialidade dos personagens impedem que o longa alcance seu potencial. É um slasher moderno com toques de sci-fi que entrega sustos e gore, mas deixa a sensação de que, assim como seus personagens, ficou preso em um ciclo que não soube como quebrar completamente.

Nota: 3/5

Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro (2018)

Minha Crítica ao Filme: Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro – Uma Mistura de Terrir, Nostalgia e Exagero que Divida Opiniões

Lançado em 29 de novembro de 2018, Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro é uma comédia de terror brasileira dirigida por Fabrício Bittar e roteirizada por ele, Danilo Gentili e André Catarinacho. Protagonizado por um elenco de humoristas conhecidos do público brasileiro, como Danilo Gentili, Léo Lins, Murilo Couto e Dani Calabresa, o filme se propõe a misturar o subgênero “terrir” (terror cômico) com uma estética inspirada nos clássicos trash dos anos 80 e 90, como Os Caça-Fantasmas e as obras de Sam Raimi. Com uma premissa que explora a lenda urbana da Loira do Banheiro, o longa mergulha em um universo de humor escatológico, gore exagerado e referências pop, mas tropeça em sua própria ambição, resultando em uma experiência que diverte em momentos específicos, mas carece de consistência narrativa e profundidade. A seguir, uma análise detalhada de seus elementos, acertos e falhas.

Enredo e Contexto Cultural

A trama acompanha um grupo de youtubers fracassados – Jack (Danilo Gentili), Fred (Léo Lins), Caroline (Dani Calabresa) e Túlio (Murilo Couto) – que se autoproclamam “exterminadores de assombrações” e veem na investigação de uma suposta possessão demoníaca em uma escola a chance de viralizar na internet e conquistar um piloto para a TV. O caso envolve a Loira do Banheiro, uma lenda urbana brasileira que assombra banheiros escolares, aqui reimaginada como uma entidade vingativa e sanguinária. A narrativa começa com um tom de sátira metalinguística, brincando com a cultura de influenciadores digitais e a febre de vídeos virais, mas logo se entrega a um festival de piadas escatológicas e cenas gore.

O filme acerta ao se conectar com o imaginário brasileiro, utilizando a Loira do Banheiro, uma figura folclórica que evoca nostalgia para quem cresceu ouvindo histórias de terror nas escolas. Além disso, a escolha de ambientar a história no contexto de youtubers reflete o zeitgeist de 2018, quando a busca por cliques e relevância online dominava a cultura jovem. No entanto, o roteiro não capitaliza essas ideias de forma consistente, optando por uma abordagem exagerada que prioriza o choque pelo choque, em detrimento de uma narrativa mais coesa ou de uma sátira mais afiada.

Direção e Estética

Fabrício Bittar demonstra um claro carinho pelo cinema trash oitentista, com referências visuais e narrativas a filmes como Evil Dead e Ghostbusters. A direção investe em efeitos práticos, com sangue jorrando em quantidades absurdas, maquiagens exageradas e criaturas grotescas, como um feto possuído que protagoniza uma das cenas mais bizarras do longa. Esses elementos conferem ao filme um charme tosco, que pode agradar fãs do gênero B. A fotografia e a edição, embora limitadas pelo orçamento, criam uma atmosfera convincente em algumas sequências, especialmente nas cenas noturnas na escola, que misturam suspense e humor.

Por outro lado, a direção peca em momentos de ação, com cortes rápidos e uma câmera “nervosa” que tornam algumas cenas confusas e difíceis de acompanhar. Além disso, o ritmo do filme é irregular: o primeiro ato é promissor, com uma introdução divertida dos personagens e do conflito, mas o segundo ato se arrasta com piadas repetitivas e situações que não avançam a trama. O terceiro ato recupera parte da energia, com um clímax que abraça o absurdo, mas não é o suficiente para compensar os momentos de monotonia.

Roteiro e Humor

O roteiro, assinado por Bittar, Gentili e Catarinacho, é o ponto mais fraco do filme. Embora a premissa seja criativa, a execução é inconsistente, com diálogos que oscilam entre o intencionalmente cafona e o simplesmente mal escrito. O humor é predominantemente escatológico, com piadas envolvendo fezes, camisinhas e fluidos corporais, o que pode funcionar para um público específico, mas cansa rapidamente pela falta de variedade. Algumas sequências, como a luta contra o feto possuído ou a cena em que uma personagem aparece com uma camisinha no rosto, se estendem além do necessário, perdendo o timing cômico.

O filme também flerta com temas polêmicos, como pedofilia e misoginia, mas sua abordagem é superficial, usando esses elementos mais para provocar do que para oferecer uma crítica ou desconstrução. Essa escolha reflete a persona de Danilo Gentili, que se posiciona como um defensor do humor “sem limites”, mas o resultado é um filme que soa mais tolo do que provocador, como apontado por críticos como Bruno Carmelo, do AdoroCinema. A metalinguagem, que poderia enriquecer a narrativa, fica restrita a referências óbvias e piadas internas que só fazem sentido para quem conhece o elenco, como as participações especiais de Sikêra Jr. e Ratinho.

Elenco e Atuações

O elenco é composto majoritariamente por humoristas, o que confere ao filme uma energia espontânea, mas também expõe limitações na atuação. Danilo Gentili interpreta uma versão exagerada de si mesmo, com trejeitos que remetem ao seu programa The Noite, mas sua performance carece de nuances. Léo Lins e Dani Calabresa têm momentos divertidos, mas seus personagens são subutilizados, especialmente Caroline, que desaparece da trama de forma abrupta. Murilo Couto, como Túlio, é o destaque, trazendo um carisma natural e um arco que, embora simples, oferece alguma profundidade ao grupo.

Entre os coadjuvantes, Bárbara Bruno se sobressai com uma atuação comprometida, mesmo em cenas absurdas, enquanto Sikêra Jr. surpreende como o diretor Nogueira, com um tom autoritário que parece improvisado e adiciona humor à narrativa. No entanto, outros personagens secundários, como os professores interpretados por Antônio Tabet e Renata Gaspar, são desperdiçados em subtramas que não contribuem para o enredo.

Aspectos Técnicos

Apesar do orçamento limitado, típico de produções nacionais, Os Exterminadores do Além impressiona em alguns aspectos técnicos. A maquiagem e os efeitos práticos são competentes, criando visuais impactantes dentro do estilo trash. A trilha sonora e a edição de som, com jumpscares previsíveis mas eficazes, ajudam a criar uma atmosfera de tensão em momentos pontuais. No entanto, a mixagem de som ocasionalmente falha, com diálogos abafados em cenas mais caóticas.

Recepção e Impactos 

O filme dividiu críticos e público. Enquanto alguns elogiaram sua ousadia e fidelidade ao gênero trash, outros o consideraram apelativo e mal executado. No AdoroCinema, a média das críticas dos usuários é de 3,6 estrelas, contrastando com as 2 estrelas da crítica profissional. No IMDb, a nota é 5,6, refletindo uma recepção mista, mas com elogios à sua energia cômica e ao gore exagerado. O longa também ganhou prêmios em festivais internacionais, como o Macabro Film Festival, indicando que encontrou seu nicho entre fãs de terror cômico.

No contexto do cinema brasileiro, Os Exterminadores do Além é uma tentativa louvável de explorar um gênero pouco comum no país, que raramente investe em terror ou comédia de horror. Comparado a obras como as de Zé do Caixão, o filme não tem a mesma profundidade temática, mas cumpre seu papel como entretenimento despretensioso. Sua maior contribuição é abrir espaço para produções que fogem do padrão das comédias românticas ou dramas sociais, ainda que não alcance todo o seu potencial.

Minhas Considerações Finais

Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro é um filme que abraça o exagero e a irreverência, mas não consegue sustentar sua proposta ao longo de seus 108 minutos. Para fãs de humor escatológico e terror trash, o longa oferece momentos de diversão, com destaque para o gore criativo, as participações especiais e o carisma de Murilo Couto. No entanto, o roteiro irregular, as piadas repetitivas e a falta de profundidade limitam seu alcance, tornando-o uma experiência mais memorável pelo absurdo do que pela qualidade narrativa.

Nota: 3/5

O filme merece crédito por sua ousadia e por trazer algo diferente ao cinema brasileiro, mas fica aquém de ser uma obra verdadeiramente marcante. É um passatempo divertido para quem está disposto a desligar o cérebro e embarcar na loucura, mas não resiste a uma análise mais crítica.

Bailarina - Do Universo de John Wick (2025)

Minha Crítica ao Filme: Bailarina – Do Universo de John Wick (2025)

O universo de John Wick, criado por Chad Stahelski e Derek Kolstad, é um fenômeno que redefiniu o cinema de ação contemporâneo. Com sua mistura de mitologia intricada, coreografias de luta impecáveis e um estilo visual que equilibra elegância e brutalidade, a franquia conquistou uma legião de fãs ao longo de quatro filmes. Bailarina – Do Universo de John Wick, dirigido por Len Wiseman e estrelado por Ana de Armas, é a primeira incursão cinematográfica derivada da série principal, prometendo expandir o mundo dos assassinos profissionais com uma nova protagonista. Ambientado entre os eventos de John Wick 3: Parabellum e John Wick 4: Baba Yaga, o filme apresenta Eve Macarro, uma jovem treinada pela organização Ruska Roma em busca de vingança pela morte de seu pai. Apesar de suas qualidades técnicas e da performance magnética de Ana de Armas, Bailarina tropeça ao tentar equilibrar sua identidade própria com a sombra imponente do legado de John Wick, resultando em uma experiência que é, ao mesmo tempo, empolgante e frustrantemente genérica.

Enredo e Contexto

A trama de Bailarina é, em essência, uma história de vingança clássica. Eve Macarro (Ana de Armas), ainda criança, testemunha o assassinato brutal de seu pai por uma organização criminosa misteriosa. Órfã, ela é acolhida pela Ruska Roma, uma facção que opera dentro do universo de John Wick, onde é treinada em uma academia de balé que funciona como fachada para formar assassinas letais. Anos depois, Eve embarca em uma missão pessoal para vingar seu pai, enfrentando adversários formidáveis e descobrindo segredos sobre sua própria história. A narrativa se conecta ao universo maior por meio de participações de personagens icônicos, como Winston (Ian McShane), Charon (Lance Reddick, em uma aparição póstuma comovente) e o próprio John Wick (Keanu Reeves), cuja presença é usada para situar o filme na linha do tempo da franquia.

Embora a premissa seja familiar, o roteiro de Shay Hatten (John Wick 3 e 4) tenta injetar frescor ao explorar a dualidade entre a delicadeza do balé e a violência desenfreada de Eve. No entanto, a promessa de integrar o balé como um elemento central da narrativa não se concretiza plenamente. A ideia de uma escola de assassinas disfarçada de academia de dança é fascinante, mas o filme não mergulha profundamente nesse conceito, utilizando-o mais como um pano de fundo estilizado do que como um motor narrativo. A história, por sua vez, segue uma estrutura previsível, com momentos de exposição que tentam amarrar Bailarina à mitologia de John Wick, mas que muitas vezes soam forçados ou redundantes.

Direção e Estilo Visual

Len Wiseman, conhecido por Anjos da Noite e O Vingador do Futuro, assume a direção com uma abordagem que busca honrar o DNA da franquia, mas carece da precisão autoral de Chad Stahelski. As sequências de ação, supervisionadas em parte por Stahelski (que também atua como produtor), são o ponto alto do filme. Wiseman entrega cenas de combate vibrantes e criativas, com destaque para momentos como a luta com um lança-chamas em um cenário gelado e uma sequência que mistura granadas e improvisos cômicos com objetos cotidianos, como pratos e eletrodomésticos. A coreografia de Eve é distinta da de John Wick: enquanto o Baba Yaga é metódico e preciso, Eve é impulsiva, adaptável e caótica, usando o ambiente a seu favor de maneira inventiva. Essa diferenciação confere ao filme uma identidade própria, ainda que não totalmente explorada.

Visualmente, Bailarina mantém a estética neo-noir que define a franquia, com uma paleta de cores que alterna entre tons frios e quentes, reforçando o contraste entre a frieza do mundo dos assassinos e a paixão de Eve por sua vingança. A direção de fotografia de Romain Lacourbas é competente, com enquadramentos que valorizam a fisicalidade das lutas, embora não alcance o mesmo nível de sofisticação dos planos aéreos e sequências sem cortes que Stahelski tornou marca registrada da série. Há momentos em que a mise-en-scène de Wiseman parece menos inspirada, com enquadramentos genéricos que não exploram todo o potencial do cenário ou da ação.

Atuações e Personagens

Ana de Armas é, sem dúvida, o coração pulsante de Bailarina. Sua performance é um equilíbrio impressionante de vulnerabilidade e ferocidade. Eve é uma protagonista que carrega o peso de seu trauma, mas também uma determinação quase feral, traduzida em sequências de ação que exigiram um treinamento físico intenso da atriz. De Armas não apenas cumpre as exigências do papel, mas também injeta carisma e humanidade em uma personagem que poderia facilmente cair no estereótipo da “assassina durona”. Sua habilidade de transitar entre momentos de fragilidade emocional e explosões de violência é um dos maiores trunfos do filme, provando que ela está pronta para carregar uma franquia de ação.

O elenco de apoio, embora repleto de nomes de peso, é subutilizado. Anjelica Huston retorna como a Diretora da Ruska Roma, trazendo uma presença imponente, mas com tempo de tela limitado. Ian McShane e Lance Reddick oferecem continuidade ao universo, mas suas participações são mais funcionais do que essenciais. Keanu Reeves, por sua vez, aparece em momentos estratégicos que servem como fan service, mas sua presença, embora bem-vinda para os fãs, às vezes parece uma muleta narrativa, como se os produtores temessem que o filme não se sustentasse sem o Baba Yaga. Outros atores, como Norman Reedus e Gabriel Byrne, têm papéis secundários que não deixam marca significativa, com arcos que se perdem na edição ou não recebem o desenvolvimento necessário.

Pontos Fortes e Fraquezas

Bailarina brilha quando se concentra na ação e na construção de Eve como uma nova força no universo de John Wick. As sequências de combate são inventivas e bem executadas, com destaque para o terceiro ato, onde o filme encontra seu ritmo e entrega um espetáculo visual que rivaliza com os melhores momentos da franquia. A trilha sonora de Tyler Bates e Joel J. Richard complementa a ação com batidas pulsantes que amplificam a energia das cenas.

No entanto, o filme sofre com uma narrativa que não ousa o suficiente. A história de vingança é genérica e não explora profundamente as nuances da mitologia da Ruska Roma ou do universo maior. A tentativa de conectar Bailarina aos eventos de John Wick resulta em momentos que parecem forçados, como se o filme tivesse medo de se desvencilhar completamente do legado de seu antecessor. Além disso, a primeira metade do longa é irregular, alternando entre sequências de ação empolgantes e momentos expositivos que carecem de profundidade emocional. A falta de um vilão memorável também é um ponto fraco: o Chanceler de Gabriel Byrne é funcional, mas não tem o impacto de antagonistas como o Marquês de John Wick 4.

Impacto e Legado

Bailarina é um passo cauteloso na expansão do universo de John Wick. Embora não alcance o mesmo nível de excelência dos filmes dirigidos por Stahelski, o longa prova que há espaço para novas histórias e protagonistas na franquia. Ana de Armas demonstra potencial para liderar uma sequência, e a introdução da Kikimora como uma figura mitológica paralela ao Baba Yaga abre possibilidades interessantes para o futuro. Contudo, o filme também expõe os desafios de criar um derivado que seja ao mesmo tempo fiel à franquia e inovador. A dependência de conexões com John Wick e a falta de ousadia narrativa sugerem que a Lionsgate ainda está tateando o terreno para encontrar o equilíbrio ideal.

Em termos comerciais, Bailarina teve um desempenho modesto, arrecadando cerca de US$ 24,5 milhões em seu fim de semana de estreia nos EUA, aquém das expectativas para um filme com orçamento estimado em US$ 90 milhões. A concorrência com outros blockbusters de verão, como Missão: Impossível – O Acerto Final, pode ter contribuído para esse resultado. Ainda assim, a recepção crítica tem sido majoritariamente positiva, com 77% de aprovação no Rotten Tomatoes, destacando a ação e a performance de De Armas, mas apontando a falta de originalidade como um obstáculo.

Minha Conclusão Final 

Bailarina – Do Universo de John Wick é um filme de ação competente que entrega o que promete: sequências de luta empolgantes, uma protagonista carismática e vislumbres do universo que os fãs adoram. Ana de Armas carrega o filme com uma performance física e emocional que a estabelece como uma estrela de ação, mas a narrativa genérica e a hesitação em se afastar da sombra de John Wick limitam seu impacto. Len Wiseman faz um trabalho sólido, mas sua direção não tem a mesma visão autoral que tornou a franquia principal um marco do gênero. Para os fãs de John Wick, Bailarina é uma adição divertida e cheia de adrenalina, mas aqueles que esperavam uma evolução mais ousada do universo podem sair com a sensação de que o filme dança bem, mas não escolhe sua própria coreografia.

Nota: 3/5

Em resumo, a nota 3/5 reflete um filme que é divertido, tecnicamente bem-feito e beneficiado pela performance de Ana de Armas, mas que peca pela falta de ousadia, narrativa genérica e dependência excessiva da franquia original. É uma adição válida ao universo.

Confinado (2025)

Minha Crítica do filme Confinado (2025)

Confinado (Locked, 2025), dirigido por David Yarovesky e estrelado por Bill Skarsgård e Anthony Hopkins, é uma refilmagem do suspense argentino 4x4 (2019), que também inspirou a produção brasileira A Jaula (2022). O filme, produzido por Sam Raimi e distribuído pela Diamond Films, propõe um thriller psicológico claustrofóbico que explora temas como justiça, moralidade, desigualdade social e vingança, ambientado quase inteiramente dentro de um SUV de luxo transformado em uma armadilha tecnológica. Apesar de sua premissa intrigante, atuações competentes e momentos de tensão bem executados, Confinado tropeça em sua ambição, entregando um resultado que oscila entre o promissor e o frustrante, incapaz de explorar plenamente o potencial de sua narrativa ou de seus temas.

Enredo e Contexto

A trama acompanha Eddie Barrish (Bill Skarsgård), um pai em dificuldades financeiras que vive de pequenos golpes e furtos para sustentar sua filha, Sarah, e manter alguma dignidade em um mundo que o pressiona constantemente. Em um momento de desespero, Eddie vê uma oportunidade ao encontrar um SUV de luxo, o "Dolus" — uma versão customizada de um Land Rover Defender, projetada com detalhes impressionantes e um custo de produção de 1,3 milhão de dólares, segundo informações do IMDb. O que parece um golpe fácil se transforma em um pesadelo quando Eddie descobre que o veículo é uma armadilha mortal, controlada remotamente por William (Anthony Hopkins), um médico rico e autoproclamado justiceiro que usa a tecnologia para punir criminosos com sua visão distorcida de justiça.

Inspirado em um caso real ocorrido em Córdoba, Argentina, em 2016, onde um assaltante ficou preso em um carro equipado com um sistema de segurança avançado, Confinado utiliza essa premissa para construir um jogo de gato e rato psicológico. Eddie, preso no carro, enfrenta torturas físicas e psicológicas impostas por William, enquanto tenta sobreviver e proteger sua família, que também se torna alvo do "justiceiro". A narrativa promete explorar a tensão entre desigualdade social, moralidade e vingança, mas frequentemente se perde em clichês e resoluções simplistas.

Aspectos Técnicos

A direção de Yarovesky, conhecido por Brightburn – Filho das Trevas (2019), demonstra habilidade em trabalhar com limitações espaciais. A fotografia, com cores frias e ângulos fechados, amplifica a sensação de claustrofobia, enquanto a montagem ágil evita que a experiência se torne monótona, mesmo com a ação restrita ao interior do veículo. O design do "Dolus" é um destaque à parte: o SUV, com vidros escurecidos, couro bege e um brasão da Senhora Justiça, é tanto um símbolo de poder quanto uma prisão tecnológica, funcionando como um personagem por si só. A trilha sonora, minimalista, complementa a atmosfera sem roubar a atenção, mas não se destaca como elemento memorável.

No entanto, a execução técnica não é suficiente para compensar as falhas do roteiro, assinado por Michael Arlen Ross. A narrativa repete dilemas e diálogos de forma exaustiva — como a troca recorrente entre Eddie perguntando "o que você quer de mim?" e William respondendo "quero que você entenda". Essa repetição, combinada com uma transição abrupta para sequências de ação no ato final, prejudica o ritmo e a coesão da história. O filme abandona a tensão psicológica inicial em favor de um desfecho mais convencional, com elementos de torture porn que parecem fora de lugar, como apontado por algumas críticas.

Atuações

Bill Skarsgård entrega uma atuação sólida como Eddie, capturando a frustração e o desespero de um homem comum preso em circunstâncias extraordinárias. Sua fisicalidade intensa e expressividade facial conseguem transmitir a angústia de alguém lutando pela sobrevivência, mesmo quando o roteiro o limita a um personagem unidimensional. A tentativa de humanizar Eddie — como na cena em que ele oferece água a um cachorro preso em um carro — é um esforço louvável, mas não suficiente para dar profundidade ao personagem.

Anthony Hopkins, por outro lado, parece estar em um filme diferente. Sua voz, que domina grande parte da narrativa, carrega o peso característico de sua presença magnética, mas há um tom cínico, quase desinteressado, em sua interpretação de William. Como apontado pelo Cineplayers, Hopkins parece "assistir de fora", como se soubesse que o material não está à altura de seu talento. Quando finalmente aparece em carne e osso, sua presença é imponente, mas o roteiro falha em dar complexidade ao seu vilão, reduzindo-o a um arquétipo de "justiceiro psicopata" que flerta com o maniqueísmo.

Temas e Mensagem

Confinado tenta abordar questões profundas, como desigualdade social, justiça pessoal e os limites do desespero. A crítica de classe é evidente na oposição entre Eddie, um trabalhador marginalizado, e William, um médico rico que usa sua riqueza e tecnologia para exercer poder sobre os "indesejáveis" da sociedade. A placa do Dolus, "18US3591", faz referência ao Título 18 do Código dos Estados Unidos, que trata de crimes puníveis com a morte, reforçando a ideia de William como um juiz autoproclamado.

No entanto, o filme hesita em explorar essas questões com profundidade. Como apontado pelo Plano Crítico, a narrativa flerta com debates sobre responsabilidade individual e desigualdade, mas recua para uma moral simplista: "roubar é errado, seja uma pessoa melhor". William, que poderia ser um vilão complexo movido por luto (sua filha foi vítima de um crime, o que justifica sua cruzada), é reduzido a um monstro unidimensional, enquanto Eddie, apesar de sua redenção no final, não passa por um arco de desenvolvimento convincente. O desfecho, com Eddie emergindo dos destroços do carro e decidindo ser um pai melhor ao comprar uma bicicleta para sua filha, é edificante, mas parece forçado e desconexo do tom sombrio do restante da obra.

Comparações e Originalidade

Como refilmagem, Confinado sofre ao ser comparado ao original argentino 4x4 e à versão brasileira A Jaula. Críticas sugerem que essas produções entenderam melhor o contexto social que pretendiam retratar, enquanto a versão americana se contenta com uma abordagem mais genérica e comercial. A influência de filmes como Por um Fio (2002) e Jogos Mortais é evidente, mas Confinado não consegue replicar a tensão contínua do primeiro ou a complexidade moral do segundo. A tecnologia do "Dolus", embora impressionante, levanta questionamentos sobre plausibilidade — como a resistência de Eddie a dias de desidratação e tortura — que enfraquecem a imersão.

Minha Conclusão Final

Confinado é um thriller que acerta em criar uma atmosfera claustrofóbica e em extrair atuações competentes de seu elenco, mas falha em cumprir as promessas de sua premissa. O filme começa com potencial, apoiado por uma direção visualmente eficiente e uma ideia cativante, mas se perde em repetições, diálogos fracos e uma resolução que sacrifica profundidade por moralismo. É um entretenimento funcional para quem busca tensão e suspense, mas deixa a sensação de uma oportunidade desperdiçada, especialmente com talentos como Hopkins e Skarsgård e um produtor como Sam Raimi envolvidos.

Nota: 3/5

A nota reflete o equilíbrio entre os méritos técnicos e as atuações, que mantêm o filme envolvente, e as falhas do roteiro, que impedem uma exploração mais profunda dos temas e personagens. Confinado é divertido e tenso em momentos pontuais, mas não deixa marcas duradouras, ficando aquém do que poderia ter sido. Recomendado para fãs de thrillers psicológicos que não se importem com uma narrativa que prioriza impacto imediato em vez de substância.