Minha Crítica de Rua do Medo: Rainha do Baile
Rua do Medo: Rainha do Baile (título original Fear Street: Prom Queen), lançado em 2025 como parte da trilogia expandida da franquia Rua do Medo da Netflix, é uma adaptação do livro homônimo de R.L. Stine, que mergulha novamente no universo de Shadyside, a cidade fictícia marcada por uma maldição secular que alimenta tragédias e horrores. Dirigido por Matt Palmer e com um elenco jovem liderado por nomes como India Amarteifio, Suzanna Son e Ella Rubin, o filme tenta equilibrar o terror slasher com uma estética nostálgica dos anos 80, centrada em um baile de formatura que descamba em caos sangrento. No entanto, apesar de suas ambições e da promessa de um tom mais autoral dentro do gênero, o filme tropeça em sua execução, resultando em uma experiência que, embora visualmente interessante, carece de profundidade narrativa e impacto emocional. Abaixo, analiso os principais aspectos do filme, destacando seus méritos e falhas, para oferecer uma crítica detalhada.
Contexto e Premissa
A franquia Rua do Medo já havia estabelecido um padrão com sua trilogia original (1994, 1978 e 1666), que conectava diferentes épocas através da maldição de Sarah Fier, uma suposta bruxa que assombra Shadyside. Rainha do Baile, ambientado em 1988, foca em um novo capítulo dessa maldição, agora centrado no colégio de Shadyside durante a temporada do baile de formatura. A trama segue um grupo de garotas populares – as candidatas ao título de rainha do baile – que se tornam alvos de um assassino misterioso após uma série de desaparecimentos. A narrativa promete explorar temas como rivalidade adolescente, pressões sociais e o peso do legado maldito da cidade, tudo envolto em uma estética oitentista carregada de neon, synth-pop e referências à cultura pop da época.
A premissa, à primeira vista, é atraente. O cenário do baile de formatura é um terreno fértil para o terror adolescente, evocando clássicos como Carrie, a Estranha (1976) e A Morte Te Dá Parabéns(2017). A ideia de um slasher que combina suspense sobrenatural com a dinâmica de um ambiente escolar competitivo tinha potencial para oferecer algo fresco dentro da franquia. No entanto, a execução não corresponde às expectativas, e o filme se perde em uma narrativa que tenta ser autoral, mas acaba se rendendo a clichês e decisões criativas inconsistentes.
Aspectos Técnicos e Estilo Autoral
Um dos pontos mais elogiados da trilogia original de Rua do Medo foi sua capacidade de capturar a essência de diferentes décadas através de uma direção de arte caprichada e uma trilha sonora evocativa. Rainha do Baile segue essa tradição, com uma estética visual que mergulha de cabeça nos anos 80: cores vibrantes, figurinos exagerados (com ombreiras e cabelos armados) e uma trilha sonora que mistura hits da época com uma partitura synthwave que remete a John Carpenter. A fotografia, com tons de neon e sombras dramáticas, cria uma atmosfera envolvente, especialmente nas cenas do baile, que são o ponto alto visual do filme. A sequência do ginásio decorado, com luzes piscantes e uma pista de dança ensanguentada, é memorável e demonstra o cuidado estético da produção.
Matt Palmer, conhecido por seu trabalho em Calibre (2018), tenta imprimir um tom mais autoral ao filme, com momentos de tensão psicológica que exploram a paranoia e a desconfiança entre as personagens. Há cenas que sugerem uma abordagem mais introspectiva, como os monólogos internos de Lizzy (India Amarteifio), a protagonista que lida com o peso de ser uma "outsider" em um grupo de garotas populares. No entanto, essas tentativas de profundidade são inconsistentes, e o filme frequentemente abandona a introspecção em favor de sustos genéricos e sequências de mortes previsíveis. A direção de Palmer é competente, mas parece limitada por um roteiro que não sabe se quer ser um slasher puro, uma crítica social ou um drama sobrenatural, resultando em um tom desigual.
Roteiro e Personagens
O maior problema de Rua do Medo: Rainha do Baile reside em seu roteiro, assinado por Katie Cordero e Jed Elinoff. Embora a trama tenha um conceito promissor, a execução é superficial e não explora o potencial de seus temas. A rivalidade entre as candidatas ao título de rainha do baile, por exemplo, poderia ter servido como uma metáfora para questões como misoginia internalizada, bullying ou a pressão pela perfeição. No entanto, as personagens são reduzidas a arquétipos – a garota popular cruel, a novata ingênua, a amiga leal – sem desenvolvimento suficiente para que o público se conecte emocionalmente com elas. As atuações, especialmente de Amarteifio e Rubin, são sólidas e trazem algum carisma, mas o material não lhes dá espaço para brilhar.
A conexão com a mitologia da franquia também é um ponto fraco. Enquanto a trilogia original entrelaçava suas histórias com a maldição de Sarah Fier de forma coesa, Rainha do Baile parece desconexo, quase como um spin-off independente. A maldição é mencionada, mas sua influência na trama é vaga, e o filme não esclarece como os eventos se conectam ao arco maior da franquia. Isso pode frustrar fãs que esperavam uma continuação mais direta ou uma expansão significativa do universo.
Além disso, o ritmo do filme é irregular. O primeiro ato se arrasta com exposições desnecessárias, enquanto o terceiro ato acelera de forma abrupta, culminando em um clímax que, embora visualmente impactante, carece de peso narrativo. As mortes, típicas do gênero slasher, são criativas em alguns momentos (uma cena envolvendo um espelho quebrado é particularmente memorável), mas muitas seguem a fórmula previsível de sustos telegráficos, o que diminui o impacto do terror.
Temas e Relevância
Rua do Medo: Rainha do Baile tenta abordar temas relevantes, como a pressão social sobre adolescentes e a toxicidade das hierarquias escolares, mas sua abordagem é superficial. Há momentos em que o filme flerta com uma crítica ao culto da popularidade e à crueldade entre jovens, mas essas ideias são subdesenvolvidas, ofuscadas por sequências de terror que priorizam o choque visual em vez de uma narrativa coesa. A tentativa de incluir diversidade no elenco é louvável, mas a falta de profundidade nas personagens impede que o filme explore questões de raça, classe ou identidade de forma significativa.
Comparado a outros slashers modernos, como X (2022) ou Pânico VI (2023), Rainha do Baile não consegue se destacar nem como um exercício de gênero puro nem como uma obra com algo novo a dizer. Ele fica em um meio-termo desconfortável, nem ousado o suficiente para ser memorável, nem divertido o suficiente para ser um prazer culposo.
Recepção e Contexto Cultural
A recepção do filme, com base em análises disponíveis na web e em discussões no X, tem sido mista. Críticos elogiaram a estética e a ambição visual, mas apontaram as mesmas falhas que mencionei: um roteiro fraco, personagens unidimensionais e uma narrativa que não aproveita o potencial da franquia. No X, fãs da trilogia original expressaram decepção com a falta de conexão com os filmes anteriores, enquanto outros apreciaram o filme como um slasher leve e nostálgico. A audiência parece dividida entre aqueles que queriam algo mais inovador e os que se contentaram com o entretenimento despretensioso.
Em um contexto cultural mais amplo, Rainha do Baile chega em um momento em que o gênero slasher está sendo reinventado por filmes que combinam horror com comentários sociais, como Barbarian (2022) ou Talk to Me (2023). Nesse cenário, o filme da Netflix parece datado, preso a uma fórmula que, embora funcional, não acompanha a evolução do gênero.
Minha Conclusão Final
Rua do Medo: Rainha do Baile é uma adição decepcionante à franquia, que tinha conquistado fãs com sua mistura de nostalgia, terror e narrativa interconectada. Apesar de sua estética caprichada e de alguns momentos visualmente marcantes, o filme sofre com um roteiro raso, personagens pouco desenvolvidos e uma falta de clareza em sua proposta. Ele não é um desastre completo – há diversão em sua vibe oitentista e em algumas sequências de terror – mas fica aquém do potencial da franquia e do gênero. Para fãs de slashers, pode ser um passatempo razoável, mas aqueles que esperavam algo mais substancial ou autoral sairão frustrados.
Nota: 2,5/5
O filme ganha pontos pela estética e pelo esforço de manter a vibe da franquia, mas perde por sua narrativa fraca e falta de impacto emocional. É um slasher mediano que poderia ter sido muito mais.
Eu também não gostei deste filme. Preferir os três primeiros
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