Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro (2018)

Minha Crítica ao Filme: Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro – Uma Mistura de Terrir, Nostalgia e Exagero que Divida Opiniões

Lançado em 29 de novembro de 2018, Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro é uma comédia de terror brasileira dirigida por Fabrício Bittar e roteirizada por ele, Danilo Gentili e André Catarinacho. Protagonizado por um elenco de humoristas conhecidos do público brasileiro, como Danilo Gentili, Léo Lins, Murilo Couto e Dani Calabresa, o filme se propõe a misturar o subgênero “terrir” (terror cômico) com uma estética inspirada nos clássicos trash dos anos 80 e 90, como Os Caça-Fantasmas e as obras de Sam Raimi. Com uma premissa que explora a lenda urbana da Loira do Banheiro, o longa mergulha em um universo de humor escatológico, gore exagerado e referências pop, mas tropeça em sua própria ambição, resultando em uma experiência que diverte em momentos específicos, mas carece de consistência narrativa e profundidade. A seguir, uma análise detalhada de seus elementos, acertos e falhas.

Enredo e Contexto Cultural

A trama acompanha um grupo de youtubers fracassados – Jack (Danilo Gentili), Fred (Léo Lins), Caroline (Dani Calabresa) e Túlio (Murilo Couto) – que se autoproclamam “exterminadores de assombrações” e veem na investigação de uma suposta possessão demoníaca em uma escola a chance de viralizar na internet e conquistar um piloto para a TV. O caso envolve a Loira do Banheiro, uma lenda urbana brasileira que assombra banheiros escolares, aqui reimaginada como uma entidade vingativa e sanguinária. A narrativa começa com um tom de sátira metalinguística, brincando com a cultura de influenciadores digitais e a febre de vídeos virais, mas logo se entrega a um festival de piadas escatológicas e cenas gore.

O filme acerta ao se conectar com o imaginário brasileiro, utilizando a Loira do Banheiro, uma figura folclórica que evoca nostalgia para quem cresceu ouvindo histórias de terror nas escolas. Além disso, a escolha de ambientar a história no contexto de youtubers reflete o zeitgeist de 2018, quando a busca por cliques e relevância online dominava a cultura jovem. No entanto, o roteiro não capitaliza essas ideias de forma consistente, optando por uma abordagem exagerada que prioriza o choque pelo choque, em detrimento de uma narrativa mais coesa ou de uma sátira mais afiada.

Direção e Estética

Fabrício Bittar demonstra um claro carinho pelo cinema trash oitentista, com referências visuais e narrativas a filmes como Evil Dead e Ghostbusters. A direção investe em efeitos práticos, com sangue jorrando em quantidades absurdas, maquiagens exageradas e criaturas grotescas, como um feto possuído que protagoniza uma das cenas mais bizarras do longa. Esses elementos conferem ao filme um charme tosco, que pode agradar fãs do gênero B. A fotografia e a edição, embora limitadas pelo orçamento, criam uma atmosfera convincente em algumas sequências, especialmente nas cenas noturnas na escola, que misturam suspense e humor.

Por outro lado, a direção peca em momentos de ação, com cortes rápidos e uma câmera “nervosa” que tornam algumas cenas confusas e difíceis de acompanhar. Além disso, o ritmo do filme é irregular: o primeiro ato é promissor, com uma introdução divertida dos personagens e do conflito, mas o segundo ato se arrasta com piadas repetitivas e situações que não avançam a trama. O terceiro ato recupera parte da energia, com um clímax que abraça o absurdo, mas não é o suficiente para compensar os momentos de monotonia.

Roteiro e Humor

O roteiro, assinado por Bittar, Gentili e Catarinacho, é o ponto mais fraco do filme. Embora a premissa seja criativa, a execução é inconsistente, com diálogos que oscilam entre o intencionalmente cafona e o simplesmente mal escrito. O humor é predominantemente escatológico, com piadas envolvendo fezes, camisinhas e fluidos corporais, o que pode funcionar para um público específico, mas cansa rapidamente pela falta de variedade. Algumas sequências, como a luta contra o feto possuído ou a cena em que uma personagem aparece com uma camisinha no rosto, se estendem além do necessário, perdendo o timing cômico.

O filme também flerta com temas polêmicos, como pedofilia e misoginia, mas sua abordagem é superficial, usando esses elementos mais para provocar do que para oferecer uma crítica ou desconstrução. Essa escolha reflete a persona de Danilo Gentili, que se posiciona como um defensor do humor “sem limites”, mas o resultado é um filme que soa mais tolo do que provocador, como apontado por críticos como Bruno Carmelo, do AdoroCinema. A metalinguagem, que poderia enriquecer a narrativa, fica restrita a referências óbvias e piadas internas que só fazem sentido para quem conhece o elenco, como as participações especiais de Sikêra Jr. e Ratinho.

Elenco e Atuações

O elenco é composto majoritariamente por humoristas, o que confere ao filme uma energia espontânea, mas também expõe limitações na atuação. Danilo Gentili interpreta uma versão exagerada de si mesmo, com trejeitos que remetem ao seu programa The Noite, mas sua performance carece de nuances. Léo Lins e Dani Calabresa têm momentos divertidos, mas seus personagens são subutilizados, especialmente Caroline, que desaparece da trama de forma abrupta. Murilo Couto, como Túlio, é o destaque, trazendo um carisma natural e um arco que, embora simples, oferece alguma profundidade ao grupo.

Entre os coadjuvantes, Bárbara Bruno se sobressai com uma atuação comprometida, mesmo em cenas absurdas, enquanto Sikêra Jr. surpreende como o diretor Nogueira, com um tom autoritário que parece improvisado e adiciona humor à narrativa. No entanto, outros personagens secundários, como os professores interpretados por Antônio Tabet e Renata Gaspar, são desperdiçados em subtramas que não contribuem para o enredo.

Aspectos Técnicos

Apesar do orçamento limitado, típico de produções nacionais, Os Exterminadores do Além impressiona em alguns aspectos técnicos. A maquiagem e os efeitos práticos são competentes, criando visuais impactantes dentro do estilo trash. A trilha sonora e a edição de som, com jumpscares previsíveis mas eficazes, ajudam a criar uma atmosfera de tensão em momentos pontuais. No entanto, a mixagem de som ocasionalmente falha, com diálogos abafados em cenas mais caóticas.

Recepção e Impactos 

O filme dividiu críticos e público. Enquanto alguns elogiaram sua ousadia e fidelidade ao gênero trash, outros o consideraram apelativo e mal executado. No AdoroCinema, a média das críticas dos usuários é de 3,6 estrelas, contrastando com as 2 estrelas da crítica profissional. No IMDb, a nota é 5,6, refletindo uma recepção mista, mas com elogios à sua energia cômica e ao gore exagerado. O longa também ganhou prêmios em festivais internacionais, como o Macabro Film Festival, indicando que encontrou seu nicho entre fãs de terror cômico.

No contexto do cinema brasileiro, Os Exterminadores do Além é uma tentativa louvável de explorar um gênero pouco comum no país, que raramente investe em terror ou comédia de horror. Comparado a obras como as de Zé do Caixão, o filme não tem a mesma profundidade temática, mas cumpre seu papel como entretenimento despretensioso. Sua maior contribuição é abrir espaço para produções que fogem do padrão das comédias românticas ou dramas sociais, ainda que não alcance todo o seu potencial.

Minhas Considerações Finais

Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro é um filme que abraça o exagero e a irreverência, mas não consegue sustentar sua proposta ao longo de seus 108 minutos. Para fãs de humor escatológico e terror trash, o longa oferece momentos de diversão, com destaque para o gore criativo, as participações especiais e o carisma de Murilo Couto. No entanto, o roteiro irregular, as piadas repetitivas e a falta de profundidade limitam seu alcance, tornando-o uma experiência mais memorável pelo absurdo do que pela qualidade narrativa.

Nota: 3/5

O filme merece crédito por sua ousadia e por trazer algo diferente ao cinema brasileiro, mas fica aquém de ser uma obra verdadeiramente marcante. É um passatempo divertido para quem está disposto a desligar o cérebro e embarcar na loucura, mas não resiste a uma análise mais crítica.

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