Premonição 6: Laços de Sangue (2025)

Minha Crítica de Premonição 6: Laços de Sangue 

Desde sua estreia em 2000, a franquia Premonição conquistou um espaço singular no gênero do terror, transformando o cotidiano em um campo minado de armadilhas mortais orquestradas por uma força invisível e implacável: a Morte. Com sua premissa de premonições que tentam (e muitas vezes falham) enganar o destino, a série se tornou um marco do terror slasher sobrenatural, onde o vilão não é um assassino mascarado, mas a própria inevitabilidade da finitude. Após um hiato de 14 anos desde Premonição 5 (2011), Premonição 6: Laços de Sangue chega aos cinemas em 15 de maio de 2025 com a missão de revitalizar a saga, e o faz com uma combinação surpreendente de fidelidade às raízes, inovação narrativa e uma homenagem comovente ao legado de Tony Todd. Dirigido pela dupla Zach Lipovsky e Adam B. Stein, com roteiro de Guy Busick e Lori Evans Taylor, o filme não apenas cumpre as expectativas dos fãs, mas também subverte a fórmula tradicional, entregando o capítulo mais emocional e tecnicamente ousado da franquia.

Uma Nova Perspectiva: Laços Familiares e o Peso da Herança

A grande inovação de Premonição 6: Laços de Sangue está em sua escolha de abandonar o grupo desconexo de adolescentes ou conhecidos casuais, tão característico dos filmes anteriores, para focar em uma narrativa centrada em laços familiares. A protagonista, Stefani Reyes (Kaitlyn Santa Juana), é uma universitária atormentada por pesadelos violentos que retratam a morte de sua família. Ao retornar à sua cidade natal, ela busca respostas com sua avó, Iris Campbell (interpretada por Gabrielle Rose no presente e Brec Bassinger em flashbacks da juventude), uma sobrevivente de uma premonição nos anos 1960 que salvou dezenas de pessoas de uma tragédia. A trama multigeracional explora como o "dom" (ou maldição) das premonições parece correr no sangue, conectando o passado de Iris ao presente de Stefani.

Essa abordagem familiar adiciona uma camada de urgência emocional que a franquia raramente explorou. Diferentemente dos capítulos anteriores, onde as mortes de personagens muitas vezes eram recebidas com um misto de alívio cômico e satisfação sádica (especialmente quando envolviam figuras irritantes), aqui o público é levado a se importar com os destinos de pais, tios, primos e irmãos. A química entre o elenco – que inclui nomes como Teo Briones, Richard Harmon, Owen Patrick Joyner, Anna Lore e Rya Kihlstedt – é palpável, e as interações familiares, repletas de afeto, tensões e até humor, criam um vínculo que torna cada perda mais impactante. Quando Stefani tenta convencer sua família de que a Morte está à espreita, a descrença inicial dos parentes não soa forçada, mas sim como um reflexo natural de dinâmicas familiares, onde histórias de avós excêntricas são vistas com ceticismo. Esse toque humano eleva o filme, transformando-o em algo mais do que um desfile de mortes criativas.

A Morte Como Protagonista: Criatividade e Humor Sádico

Se Premonição sempre foi conhecido por suas mortes elaboradas, Laços de Sangue não decepciona. As sequências de morte são um espetáculo de gore e inventividade, mantendo a tradição da franquia de transformar objetos cotidianos em instrumentos letais. A cena de abertura, ambientada em um restaurante nos anos 1960 no topo de uma torre, é uma das mais impactantes da série, utilizando a altura e elementos prosaicos como talheres, copos e ventiladores para criar um massacre visualmente impressionante. A direção de Lipovsky e Stein brinca com a tensão, alongando o suspense antes de liberar a carnificina, o que amplifica o impacto de cada tragédia. Críticas apontam que o uso de CGI em alguns momentos, como na abertura e no clímax, pode parecer artificial, mas os efeitos práticos predominam, garantindo um realismo gráfico que faz o público estremecer (e, em alguns casos, rir nervosamente).

O humor, aliás, é um dos grandes acertos do filme. Diferentemente dos capítulos anteriores, que às vezes se levavam a sério demais ou caíam no exagero caricato, Premonição 6 abraça um tom irônico e autoconsciente. A Morte é retratada quase como uma entidade debochada, que se diverte ao frustrar os planos dos personagens com armadilhas cada vez mais absurdas. Um exemplo memorável é a morte envolvendo um tatuador, onde ventiladores de teto, correntes e um piercing nasal se combinam em uma sequência que é ao mesmo tempo grotesca e hilária. O roteiro de Busick e Taylor equilibra esse humor ácido com momentos de genuína tensão, criando uma experiência que oscila entre o riso nervoso e o pavor. É como se o filme dissesse ao público: “Você sabe o que vai acontecer, mas não tem ideia de como.”

Tony Todd e o Legado de William Bludworth

Um dos aspectos mais emocionantes de Premonição 6 é a presença de Tony Todd como William Bludworth, o misterioso legista que serve como guia enigmático sobre as regras da Morte. Sua participação, embora limitada devido à sua saúde frágil durante as filmagens (Todd faleceu em 2024, e o filme é dedicado a ele), é um dos pontos altos do longa. Bludworth, que apareceu nos filmes de 2000, 2003 e 2011, retorna como o único sobrevivente da premonição de 1968, oferecendo a Stefani pistas crípticas sobre como quebrar o ciclo fatal. Sua voz grave e presença magnética continuam a roubar a cena, mesmo em um papel reduzido. A decisão dos diretores de integrar Bludworth à narrativa familiar, sugerindo sua conexão com os eventos do passado, é um toque brilhante que eterniza o ator e o personagem no universo da franquia.

A homenagem a Todd não é apenas nostálgica, mas profundamente sentida. Há uma melancolia palpável em suas cenas, especialmente sabendo que este foi um de seus últimos papéis. O filme usa sua fragilidade física de maneira inteligente, transformando-a em uma metáfora para a luta contra o inevitável. É impossível não se emocionar com sua despedida, que serve como um adeus tanto ao personagem quanto ao próprio ator, uma figura icônica do terror.

Subvertendo Expectativas sem Perder a Essência

Premonição 6 não tenta reinventar a roda, mas subverte expectativas ao romper com alguns padrões da franquia. Ao invés de se apoiar apenas na fórmula de “visão, desastre, mortes em sequência”, o filme explora a ideia de um ciclo que atravessa gerações, conectando o passado e o presente de maneira coesa. A narrativa cíclica, que retorna aos eventos de 1968 para explicar a perseguição atual, adiciona profundidade à mitologia sem complicá-la demais. Além disso, o foco na família faz com que o público torça genuinamente pelos personagens, algo raro nos filmes anteriores, onde as vítimas muitas vezes eram descartáveis.

No entanto, o filme não está isento de falhas. O desenvolvimento dos personagens, embora melhor que em capítulos como Premonição 4, ainda deixa a desejar em profundidade. Alguns arcos secundários, como o de certos familiares de Stefani, são subaproveitados, e o roteiro, por vezes, sacrifica a tensão atmosférica dos primeiros filmes em favor do humor e da ação. O uso de CGI em momentos-chave também pode tirar o espectador da imersão, especialmente quando comparado ao impacto visceral dos efeitos práticos. Ainda assim, esses problemas não ofuscam o brilho geral do longa, que compensa com uma direção segura, um design de som impecável (que faz cada rangido e estalo ecoar como uma ameaça) e uma trilha sonora que alterna entre o nostálgico e o moderno.

Um Final que Reforça a Inevitabilidade

Sem revelar spoilers, o desfecho de Premonição 6: Laços de Sangue mantém a essência fatalista da franquia, mas o faz de maneira surpreendentemente emocional. A tentativa de Stefani e seus familiares de enganar a Morte culmina em uma sequência que mistura esperança, desespero e a inevitável ironia que define a série. A cena final, envolvendo um trem e toras de madeira (uma referência direta a Premonição 2), é um lembrete cruel de que, no universo de *Premonição*, o destino sempre cobra seu preço. No entanto, o filme vai além do niilismo ao sugerir que, mesmo diante do inevitável, a luta por proteger aqueles que amamos tem valor. É uma mensagem sutil, mas poderosa, que ressoa em um gênero muitas vezes dominado pelo cinismo.

Minha Conclusão Final: Um Triunfo para Fãs e Novatos

Premonição 6: Laços de Sangue é, sem dúvida, o capítulo mais bem executado da franquia, equilibrando o respeito pela fórmula original com inovações que revitalizam a narrativa. A escolha de centrar a história em laços familiares traz uma nova dinâmica emocional, enquanto as mortes criativas e o humor ácido mantêm o espírito irreverente da série. A direção de Lipovsky e Stein, aliada ao roteiro esperto de Busick e Taylor, transforma o longa em uma experiência que é ao mesmo tempo nostálgica e fresca, capaz de conquistar tanto os fãs que cresceram com a franquia quanto uma nova geração de espectadores. A homenagem a Tony Todd, com sua presença marcante como Bludworth, adiciona um peso emocional que eleva o filme a um patamar especial.

Com uma aprovação de 93% no Rotten Tomatoes, a maior da franquia, Premonição 6 prova que ainda há vida (e morte) na saga. É um filme que não apenas entrega o que os fãs esperam – sangue, suspense e reviravoltas – mas também ousa olhar para o futuro, plantando sementes para novas histórias sem apelar para reboots ou sequências-legado. Ao sair do cinema, é impossível não olhar para os objetos ao seu redor com um pouco mais de desconfiança. Afinal, em Premonição, o banal é sempre uma armadilha. E é exatamente essa mistura de medo, diversão e paranoia que faz de Laços de Sangue um retorno triunfal.

Nota: 4,5/5 

Um suspiro aliviado para os fãs e um soco no estômago para quem acha que pode enganar o destino.

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