Minha Crítica do filme Confinado (2025)
Confinado (Locked, 2025), dirigido por David Yarovesky e estrelado por Bill Skarsgård e Anthony Hopkins, é uma refilmagem do suspense argentino 4x4 (2019), que também inspirou a produção brasileira A Jaula (2022). O filme, produzido por Sam Raimi e distribuído pela Diamond Films, propõe um thriller psicológico claustrofóbico que explora temas como justiça, moralidade, desigualdade social e vingança, ambientado quase inteiramente dentro de um SUV de luxo transformado em uma armadilha tecnológica. Apesar de sua premissa intrigante, atuações competentes e momentos de tensão bem executados, Confinado tropeça em sua ambição, entregando um resultado que oscila entre o promissor e o frustrante, incapaz de explorar plenamente o potencial de sua narrativa ou de seus temas.
Enredo e Contexto
A trama acompanha Eddie Barrish (Bill Skarsgård), um pai em dificuldades financeiras que vive de pequenos golpes e furtos para sustentar sua filha, Sarah, e manter alguma dignidade em um mundo que o pressiona constantemente. Em um momento de desespero, Eddie vê uma oportunidade ao encontrar um SUV de luxo, o "Dolus" — uma versão customizada de um Land Rover Defender, projetada com detalhes impressionantes e um custo de produção de 1,3 milhão de dólares, segundo informações do IMDb. O que parece um golpe fácil se transforma em um pesadelo quando Eddie descobre que o veículo é uma armadilha mortal, controlada remotamente por William (Anthony Hopkins), um médico rico e autoproclamado justiceiro que usa a tecnologia para punir criminosos com sua visão distorcida de justiça.
Inspirado em um caso real ocorrido em Córdoba, Argentina, em 2016, onde um assaltante ficou preso em um carro equipado com um sistema de segurança avançado, Confinado utiliza essa premissa para construir um jogo de gato e rato psicológico. Eddie, preso no carro, enfrenta torturas físicas e psicológicas impostas por William, enquanto tenta sobreviver e proteger sua família, que também se torna alvo do "justiceiro". A narrativa promete explorar a tensão entre desigualdade social, moralidade e vingança, mas frequentemente se perde em clichês e resoluções simplistas.
Aspectos Técnicos
A direção de Yarovesky, conhecido por Brightburn – Filho das Trevas (2019), demonstra habilidade em trabalhar com limitações espaciais. A fotografia, com cores frias e ângulos fechados, amplifica a sensação de claustrofobia, enquanto a montagem ágil evita que a experiência se torne monótona, mesmo com a ação restrita ao interior do veículo. O design do "Dolus" é um destaque à parte: o SUV, com vidros escurecidos, couro bege e um brasão da Senhora Justiça, é tanto um símbolo de poder quanto uma prisão tecnológica, funcionando como um personagem por si só. A trilha sonora, minimalista, complementa a atmosfera sem roubar a atenção, mas não se destaca como elemento memorável.
No entanto, a execução técnica não é suficiente para compensar as falhas do roteiro, assinado por Michael Arlen Ross. A narrativa repete dilemas e diálogos de forma exaustiva — como a troca recorrente entre Eddie perguntando "o que você quer de mim?" e William respondendo "quero que você entenda". Essa repetição, combinada com uma transição abrupta para sequências de ação no ato final, prejudica o ritmo e a coesão da história. O filme abandona a tensão psicológica inicial em favor de um desfecho mais convencional, com elementos de torture porn que parecem fora de lugar, como apontado por algumas críticas.
Atuações
Bill Skarsgård entrega uma atuação sólida como Eddie, capturando a frustração e o desespero de um homem comum preso em circunstâncias extraordinárias. Sua fisicalidade intensa e expressividade facial conseguem transmitir a angústia de alguém lutando pela sobrevivência, mesmo quando o roteiro o limita a um personagem unidimensional. A tentativa de humanizar Eddie — como na cena em que ele oferece água a um cachorro preso em um carro — é um esforço louvável, mas não suficiente para dar profundidade ao personagem.
Anthony Hopkins, por outro lado, parece estar em um filme diferente. Sua voz, que domina grande parte da narrativa, carrega o peso característico de sua presença magnética, mas há um tom cínico, quase desinteressado, em sua interpretação de William. Como apontado pelo Cineplayers, Hopkins parece "assistir de fora", como se soubesse que o material não está à altura de seu talento. Quando finalmente aparece em carne e osso, sua presença é imponente, mas o roteiro falha em dar complexidade ao seu vilão, reduzindo-o a um arquétipo de "justiceiro psicopata" que flerta com o maniqueísmo.
Temas e Mensagem
Confinado tenta abordar questões profundas, como desigualdade social, justiça pessoal e os limites do desespero. A crítica de classe é evidente na oposição entre Eddie, um trabalhador marginalizado, e William, um médico rico que usa sua riqueza e tecnologia para exercer poder sobre os "indesejáveis" da sociedade. A placa do Dolus, "18US3591", faz referência ao Título 18 do Código dos Estados Unidos, que trata de crimes puníveis com a morte, reforçando a ideia de William como um juiz autoproclamado.
No entanto, o filme hesita em explorar essas questões com profundidade. Como apontado pelo Plano Crítico, a narrativa flerta com debates sobre responsabilidade individual e desigualdade, mas recua para uma moral simplista: "roubar é errado, seja uma pessoa melhor". William, que poderia ser um vilão complexo movido por luto (sua filha foi vítima de um crime, o que justifica sua cruzada), é reduzido a um monstro unidimensional, enquanto Eddie, apesar de sua redenção no final, não passa por um arco de desenvolvimento convincente. O desfecho, com Eddie emergindo dos destroços do carro e decidindo ser um pai melhor ao comprar uma bicicleta para sua filha, é edificante, mas parece forçado e desconexo do tom sombrio do restante da obra.
Comparações e Originalidade
Como refilmagem, Confinado sofre ao ser comparado ao original argentino 4x4 e à versão brasileira A Jaula. Críticas sugerem que essas produções entenderam melhor o contexto social que pretendiam retratar, enquanto a versão americana se contenta com uma abordagem mais genérica e comercial. A influência de filmes como Por um Fio (2002) e Jogos Mortais é evidente, mas Confinado não consegue replicar a tensão contínua do primeiro ou a complexidade moral do segundo. A tecnologia do "Dolus", embora impressionante, levanta questionamentos sobre plausibilidade — como a resistência de Eddie a dias de desidratação e tortura — que enfraquecem a imersão.
Minha Conclusão Final
Confinado é um thriller que acerta em criar uma atmosfera claustrofóbica e em extrair atuações competentes de seu elenco, mas falha em cumprir as promessas de sua premissa. O filme começa com potencial, apoiado por uma direção visualmente eficiente e uma ideia cativante, mas se perde em repetições, diálogos fracos e uma resolução que sacrifica profundidade por moralismo. É um entretenimento funcional para quem busca tensão e suspense, mas deixa a sensação de uma oportunidade desperdiçada, especialmente com talentos como Hopkins e Skarsgård e um produtor como Sam Raimi envolvidos.
Nota: 3/5
A nota reflete o equilíbrio entre os méritos técnicos e as atuações, que mantêm o filme envolvente, e as falhas do roteiro, que impedem uma exploração mais profunda dos temas e personagens. Confinado é divertido e tenso em momentos pontuais, mas não deixa marcas duradouras, ficando aquém do que poderia ter sido. Recomendado para fãs de thrillers psicológicos que não se importem com uma narrativa que prioriza impacto imediato em vez de substância.